novo surto de inflação nos EUA pode minar credibilidade do Fed, dizem economistas


Estudo publicado às margens do simpósio de Jackson Hole alerta para o risco de um novo surto de aumento da inflação nos Estados Unidos minar a credibilidade do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Tal análise vem à tona em meio aos dados conflitantes da economia americana e que desafiam os dirigentes da autoridade monetária no momento de decidir para onde vão os juros no país.

Os autores do estudo se debruçaram sobre o papel da regra de Taylor, proposta pelo economista John B. Taylor em 1993. Trata-se de um princípio da política macroeconômica que sugere como os bancos centrais devem ajustar suas taxas de juros de acordo com a inflação e a atividade econômica.

Os economistas Emi Nakamura, Venance Riblier, Jon Steinsson, da Universidade de Berkeley, avaliam que desvios da regra de Taylor ocorreram com frequência, particularmente nos últimos 20 anos. “Em muitos casos, as taxas de juros variam menos do que uma resposta de um para um com a inflação por períodos prolongados”, afirmam os autores, no estudo apresentado em Jackson Hole.

Eles abordam três razões pelas quais a política ideal pode não implicar sempre em uma resposta de um para um das taxas de juros à inflação. São elas: o ‘forward guidance’, choques correlacionados e “defasagens longas e variáveis”.

“O principal desafio decorrente de tais políticas não é a indeterminação, mas a erosão da credibilidade no combate à inflação e o potencial desancoramento das expectativas de inflação de longo prazo”, avaliam os autores.

Os autores do estudo não mencionam os riscos relacionados às tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, à inflação americana. Mas alertam para a importância da credibilidade do Fed, que tem sido colocado à prova na gestão do republicano, que pressiona por juros mais baixos na maior economia do mundo.

Na visão dos economistas, somente bancos centrais com expectativas de inflação fortemente ancoradas e uma forte credibilidade no combate à inflação podem ser capazes de ignorar choques inflacionários. Durante a covid-19, a confiança do BC americano possibilitou uma gama mais ampla de ações políticas do que era possível quando a regra de Taylor foi originalmente proposta, afirmam.

“Mas a credibilidade do Fed não é infinita e poderia se esgotar severamente no caso de outro surto de alta inflação”, alertam Nakamura, Riblier e Steinsson, no estudo.

O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, mencionou, em um discurso feito em maio, em evento do Banco do Japão (BoJ, em inglês), a regra de Taylor. Na ocasião, disse que, pelo princípio, o certo seria elevar as taxas em 2025 para combater aumentos de preços causados pelas tarifas de Trump.

“Tudo o que importa é que a inflação suba mais rápido do que o desemprego. Se essa condição for atendida, as taxas devem subir”, afirmou Kashkari, na ocasião. “Ignorar a inflação tarifária simplesmente não é uma opção para regras de política estritas”, acrescentou.

Para Kashkari, regras simples de política monetária são “atraentes”, mas podem levar a recomendações “absurdas” quando grandes disrupções atingem a economia, a exemplo da covid-19.



Por: Estadão Conteúdo

Estadão

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