A Polícia Civil de Goiás, através do 4º Distrito Policial de Goiânia – 1ª DRP, deflagrou na manhã desta quarta-feira (18) a operação Face Oculta, com a finalidade de cumprir quatro mandados de prisão e sete mandados de busca e apreensão em Goiânia e Anápolis. A ação faz parte de uma investigação sobre uma clínica que realizava procedimentos e cirurgias estéticas de forma clandestina desde 2017, prejudicando dezenas de pessoas que sofreram graves sequelas.
Os alvos da operação foram os proprietários e os responsáveis técnicos da clínica Karine Gouveia: Karine Giselle Gouveia Silva (34 anos), seu marido Paulo Cesar Dias Gonçalves (44 anos), e os responsáveis técnicos Daniel Ferreira Lima (odontólogo) e Jessica Moreira dos Santos (biomédica). Esses profissionais realizaram diversos procedimentos além de suas atribuições regulamentares, resultando em lesões permanentes nos pacientes.
O registro da clínica na Receita Federal e na Vigilância Sanitária a classifica como prestadora de serviços de “Cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza”, focada em massagem e estética, o que é totalmente incompatível com os procedimentos cirúrgicos e invasivos realizados. Além disso, a clínica operava com profissionais de saúde que realizavam cirurgias e intervenções sem a devida qualificação, violando as normas dos conselhos profissionais.
Karine Gouveia, sem formação acadêmica ou qualificação na área da saúde, não apenas executava procedimentos que resultaram em sequelas, mas também atendia as vítimas que buscavam a clínica. Ela realizava anamneses e decidia sobre a realização de procedimentos invasivos, incluindo rinoplastias, otoplastias, lipoaspirações e liftings faciais, realizados pelos outros envolvidos sem exames prévios, em condições inadequadas e insalubres.
Para atrair vítimas, disfarçar a ilegalidade das práticas e evitar questionamentos sobre procedimentos médicos, o grupo criminoso anunciava as intervenções sob nomes diferentes, como “reestruturação nasal hd” e “retração de orelha”.
Os procedimentos realizados pela organização criminosa resultaram em deformidades estéticas e funcionais permanentes. Até agora, a PCGO recebeu relatos de 24 vítimas com complicações graves, principalmente em intervenções no nariz.
Os crimes investigados incluem organização criminosa (Art. 2º da Lei n° 12.850/2013), exercício ilegal da medicina e da odontologia (Art. 282 do Código Penal), lesão corporal gravíssima (Art. 129, §2º, IV, do Código Penal), adulteração de produtos terapêuticos (Art. 273 do Código Penal), estelionato (Art. 171 do Código Penal), propaganda enganosa (Art. 66 do Código de Defesa do Consumidor) e realização de serviços de alto risco sem autorização (Art. 65 do CDC).
Dada a gravidade dos fatos, foi feita uma representação ao Poder Judiciário para encerrar as atividades da clínica e bloquear valores nas contas dos investigados, estimando-se um mínimo de R$ 100 mil por vítima, a título de reparação.
A divulgação das identidades dos presos foi feita conforme a Lei 13.869/2019, portaria n° 547/2021 – PC, e despacho da Autoridade Policial responsável pelas investigações, justificadas pela possibilidade real de identificar novas vítimas.