Educafro processa Flamengo por racismo institucional e pede R$ 100 milhões em indenização


A Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro) entrou com uma ação civil pública na Justiça do Rio contra o Flamengo, citando racismo institucionalizado e omissões corporativas no combate à discriminação racial. O processo foi registrado no dia 21 de agosto e a entidade pede uma indenização de R$ 100 milhões. O Estadão entrou em contato com o clube, mas ainda não obteve resposta.

A informação foi divulgada primeiramente pelo jornalista Ancelmo Gois e confirmada pela reportagem. A ação foi motivada pela declaração do diretor da base do Flamengo, o português Alfredo Almeida, em julho de 2025, que afirmou que “a África tem valências físicas” enquanto “a parte mental está em outras zonas da Europa”, consideradas de cunho racista e eugenistas.

Entre outros motivos citados pela Educafro estão o fato de o presidente rubro-negro, Luiz Eduardo Baptista – mais conhecido como Bap -, ter classificado como “adequado” o “discurso de minimização do racismo da Conmebol em março de 2025”. Na ocasião, o mandatário Alejandro Domínguez lamentou a frequente discriminação nos estádios e diz que a entidade faz o que está no seu alcance para punir casos de racismo. Horas depois, após a declaração do dirigente flamenguista, o cartola paraguaio causou polêmica ao dizer que a Libertadores sem brasileiros seria como “Tarzan sem a Chita”.

Outras alegações da Educafro estão a recusa do Flamengo em assinar um manifesto antirracismo proposto pela Liga do Brasil (Libra), e um “histórico de racismo velado e explícito desde sua fundação”, como a subvalorização de ídolos como Adílio e Andrade.

Ao Estadão, Frei David, diretor-presidente da Educafro, afirmou que a ação tem um viés pedagógico e que a entidade vai novamente à Justiça em caso de racismo envolvendo outros clubes.

“Acompanhamos a questão do racismo no futebol brasileiro e internacional há 11 anos, desde 2014, e percebemos que quase nada está mudando. As ações atuais, como faixas e frases em camisetas, são consideradas insuficientes e não dá mais para brincar com a luta contra o racismo”, inicia.

“O Flamengo tem a maior torcida com pessoas negras em sua composição no Brasil. A ação é uma defesa dessa comunidade, que muitas vezes é tímida para falar a sua dor. É um processo profundamente pedagógico para levar a comunidade afro-brasileira a discutir e enfrentar o problema do racismo com profundidade”, completa.

A Educafro cita ainda na ação o Decreto nº 10.932/2022, que promulgou a Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro com status de emenda constitucional.

A Convenção estabelece a obrigatoriedade para todos os órgãos públicos, empresas privadas e meios de comunicação de elaborar e implementar planos de inclusão. Segundo a entidade, o Flamengo violou dispositivos constitucionais que promovem a igualdade racial.

Por se tratar de uma ação civil pública, cabe ressaltar que, caso a Educafro ganhe o caso na Justiça, o valor da indenização será administrado pelo Ministério Público. Segundo Frei David, a entidade vai trabalhar para que o valor seja destinado a projetos voltados para o povo afro-brasileiro, como bolsa integral em escolinhas de futebol, pagas pelo Flamengo em suas escolas e parceiras espalhadas pelo Brasil.

Ainda de acordo com diretor da Educafro, outro objetivo é destinar o valor para bolsas de moradia e alimentação a alunos de universidades públicas e também estudantes vinculados ao Prouni.



Por: Estadão Conteúdo

Estadão

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