Veja como a alimentação pode atuar contra o câncer de estômago

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Veja como a alimentação pode atuar contra o câncer de estômago

O câncer de estômago, ou câncer gástrico, está entre os tumores mais incidentes no Brasil e segue como um importante desafio para a saúde pública. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no país, é o quarto tipo mais frequente entre os homens e o sexto entre as mulheres.

“O câncer gástrico, também chamado de adenocarcinoma gástrico, se origina nas células que revestem o estômago. Seu desenvolvimento é multifatorial, envolvendo fatores genéticos e ambientais, como hábitos alimentares, infecção por Helicobacter pylori e doenças pré-existentes, como a gastrite crônica atrófica”, explica o Dr. Ramon Andrade de Mello, oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil(São Paulo).

Uma nova revisão publicada na revista Oncoscience em maio, chamada “The chemopreventive effects of native Brazilian plants on stomach cancer: A review of the last 25 years“, mostra que plantas brasileiras contam com compostos naturais que podem ser promissores contra esse tipo de tumor.

Conforme o médico, o desenvolvimento desse tipo de câncer tem relação com o hábito alimentar. “Sabemos que o alto consumo de sódio e alimentos defumados aumenta o risco de desenvolvimento de câncer no estômago, enquanto o consumo de frutas e vegetais tem efeito protetor contra a doença. Esse efeito ocorre porque nos vegetais há compostos fitoquímicos com atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, antioxidantes e anticancerígenas”, conta.

Frutas favorecem a saúde

Conforme o Dr. Ramon Andrade de Mello, muitas pesquisas ainda precisam ser feitas com plantas do bioma brasileiro, que é pouco explorado. O que se sabe atualmente é que o consumo regular de frutas e vegetais ricos em compostos bioativos, como polifenóis e flavonoides, tem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e quimiopreventivos no câncer de estômago, com ação também indireta, ao diminuir o risco de doenças metabólicas que favorecem o desenvolvimento tumoral.

“As frutas nativas brasileiras, originárias de diversos biomas, são ricas em compostos bioativos, e seu processamento permite não apenas o consumo in natura, mas também produz subprodutos ricos em elementos valiosos como os fenólicos, proporcionando benefícios substanciais à saúde. Estamos falando de frutas como açaí e goiaba, por exemplo”, conta a nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

Uma alimentação rica em nutrientes protetores fortalece o organismo e atua na prevenção de enfermidades de longo prazo. “Incluí-las na dieta melhora o aporte de nutrientes antioxidantes e compostos anti-inflamatórios, muitos dos quais fundamentais para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer”, acrescenta.

Estudo precisa de análises mais aprofundadas

O estudo publicado na Oncoscience revisou trabalhos dos últimos 25 anos e abrange dez espécies nativas, incluindo açaí (Euterpe oleracea), araçá-do-campo (Psidium guineense), araçá-amarelo (Psidium cattleianum Sabine), cacau (Theobroma cacao), coentro (Eryngium foetidum), physalis (Physalis angulata), goiaba (Psidium guajava), jambu (Acmella oleracea), pitanga (Eugenia uniflora) e ubaia (Eugenia patrisii).

“Extratos dessas plantas mostraram sinais de redução do crescimento de células cancerígenas, desencadeando a morte celular e retardando a progressão da doença. Muitos dos trabalhos analisados são estudos de cultura de células, com apenas dois estudos conduzidos em modelo animal e nenhum estudo clínico realizado”, esclarece o Dr. Ramon Andrade de Mello.

Em razão disso, ele ressalta a importância de análises mais aprofundadas. “Embora os mecanismos biológicos exatos permaneçam obscuros em muitos casos, alguns trabalhos relataram redução da inflamação e interrupção da sinalização relacionada ao câncer. Essas descobertas apontam para a possibilidade de que substâncias naturais à base de plantas possam apoiar os esforços para prevenir ou controlar o câncer, mas precisam ser confirmadas em trabalhos clínicos”, diz o oncologista.

Porém, isso não anula os achados do estudo. “Isso é importante para entender como esses compostos vegetais atuam no corpo humano e para avaliar sua segurança e eficácia em cenários do mundo real”, completa o médico.

Açaí ao lado de seu pó sobre uma superfície de madeira rosa
O açaí tem um grande poder antioxidante, importante para várias funções metabólicas (Imagem: Luis Echeverri Urrea | Shutterstock)

Substâncias bioativas que fortalecem a saúde humana

Enquanto esses extratos ainda não são explorados pelas pesquisas, o oncologista diz que vale a pena incluir alimentos que contenham compostos fitoquímicos. “Esses compostos são substâncias bioativas naturalmente encontradas em plantas — incluindo frutas, legumes, grãos e sementes —, que não são nutrientes essenciais (como vitaminas e minerais), mas exercem efeitos benéficos à saúde humana”, diz o Dr. Ramon Andrade de Mello.

O médico ressalta a relevância desses compostos especificamente nas frutas nativas brasileiras. “Em frutas nativas brasileiras, eles estão presentes em alta diversidade e concentração, o que contribui para seu potencial funcional e medicinal. Na lista de compostos, estão: polifenóis (que incluem flavonoides, ácidos fenólicos, taninos e lignanas); carotenoides; alcaloides; saponinas e terpenoides; e antocianinas”, lista.

Segundo a Dra. Marcella Garcez, o açaí é uma ilustração prática dessa composição. “O açaí, por exemplo, contém antocianinas. Flavonoides chamados antocianinas, responsáveis por sua coloração, com grande poder antioxidante, são compostos bioativos que conferem funcionalidade ao alimento. Sua fermentação provoca alterações em determinados grupos bacterianos e produz ácidos orgânicos. Os compostos fenólicos do açaí têm efeitos antioxidantes que protegem o DNA”. A médica nutróloga ainda lembra que a polpa de açaí é rica em cálcio e potássio, importantes para várias funções metabólicas.

Cuidados essenciais para prevenir câncer de estômago

A Dra. Marcella Garcez recomenda a inclusão desses alimentos nativos do Brasil em uma dieta equilibrada, variada e o mais natural possível, para promover benefícios e prevenir doenças. O Dr. Ramon Andrade de Mello também orienta como prevenção do câncer gástrico controlar a gastrite e evitar fatores de risco.

“Diagnosticar e tratar a infecção por H. pylori, reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em conservantes, manter uma dieta equilibrada, rica em frutas e vegetais, evitar cigarro e álcool em excesso, além de realizar exames de rotina, especialmente para quem tem histórico familiar da doença, estão entre as atitudes preventivas”, finaliza o oncologista.

Por Pedro Del Claro





Fonte: Portal EdiCase

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