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Vale do São Patrício revela café com qualidade e potencial para revolucionar a agricultura em Goiás

Há 10 anos, uma semente foi plantada – não só no solo fértil do Vale do São Patrício, mas na visão de pesquisadores que acreditavam no potencial do café goiano. Em abril de 2015, mudas da espécie arábica foram plantadas no campo experimental do Instituto Federal Goiano, em Ceres, dando início a uma jornada que agora colhe frutos de excelência: o café produzido foi classificado como especial, com nota acima de 80 pontos em testes sensoriais rigorosos.

O início

A história começou ainda em 2013, quando um edital da FAPEG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás) buscava projetos capazes de impulsionar o desenvolvimento científico regional. O projeto sob a supervisão do professor Dr. Cleiton Mateus, do Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, foi aprovado. A proposta previa a avaliação do comportamento de cultivares de café arábica em solo goiano, com o Dr. Wellington Pereira, pesquisador aposentado da Embrapa, “que nasceu debaixo de um pé de café”, como ele próprio dizia.

Resultados promissores

Com sementes vindas de diversas partes do Brasil, foi montado um experimento de longo prazo, com cultivo irrigado e rigor técnico. O objetivo: identificar quais materiais genéticos produziriam mais e com melhor qualidade nas condições de solo e clima do cerrado goiano. Após uma década de observações e manejo cuidadoso com as 35 cultivares de café arábica, 11 delas se destacaram com a produtividade e estabilidade, algumas com rendimento médio mais que o dobro da produtividade nacional.

Qualidade reconhecida

Mas não foi apenas produtividade que surpreendeu. As amostras colhidas dessas 11 cultivares foram enviadas ao Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Alegre, para análise da qualidade da bebida pelo grupo de pesquisa liderado pelo prof. João Batista Pavesi Simão. Todas obtiveram notas superiores a 80 pontos, entrando para a cobiçada categoria de cafés especiais. “Isso mostra que é possível produzir não só em quantidade, mas também com qualidade superior aqui no nosso cerrado”, destaca o professor Cleiton.

Mercado de alto valor

Segundo ele, a pontuação obtida nas análises transforma o jogo: “Um produtor que investir nesse café especial sai de um mercado tradicional e entra em um novo patamar de negócio. Uma saca comum pode valer R$ 2.800,00 atualmente, mas uma saca de café especial pode chegar a R$ 40 mil ou mais em leilões”, explica. O diferencial? Aroma, sabor, corpo e acidez equilibrados – características que encantam especialistas.

Formação de profissionais

Ao longo desses 10 anos, estudantes de agronomia, zootecnia, técnico em agropecuária e do mestrado em irrigação no cerrado participaram ativamente do projeto, ajudando a cuidar das plantas, colher frutos e acompanhar cada etapa do processo. “Foi uma formação de recursos humanos muito rica. A prática aliada à pesquisa cria profissionais preparados para inovar”, avalia Cleiton.

Parceria com o Sebrae

O apoio do Sebrae foi fundamental para ampliar o alcance da pesquisa, oferecendo suporte técnico e estratégico. “Acreditar nesse projeto é acreditar em uma nova alternativa para diversificar a agricultura goiana”, resume o professor. Com a chancela do Sebrae, o projeto agora mira a transferência de tecnologia para os produtores locais, capacitando-os para cultivar e comercializar café especial.

Adesão da iniciativa privada

O primeiro contato de Ana Cristina Machado de Sousa, gerente financeira da empresa Café Franciscano, com o projeto de cultivo de café arábica do IF Goiano, foi durante um convite para uma palestra no campus Ceres. “O José Neto, do Sebrae, me chamou para fazer uma fala sobre o que fazer com o café depois da colheita. E aí, escutando o Cleiton apresentar o projeto, eu fiquei pensando: ‘gente, mas eu é que quero fazer isso’. Foi aí que começamos esse namoro, vendo como poderia ser feito e onde plantar”, conta Ana Cristina.

Confiança técnica

A partir daí, veio a decisão de aderir ao projeto, impulsionada principalmente pelo respaldo técnico e científico. “O que foi muito importante e decisivo para a gente foi essa questão do estudo já estar pronto. Se a gente fosse começar por conta própria, ia ser muito mais trabalhoso. Mas com o apoio do IF Goiano, do Cleiton, que trabalha 24 horas com a gente, tivemos confiança para investir. Já foram feitos testes, podas, análises e até enfrentadas pragas. Tudo isso nos deu segurança para produzir nossa própria matéria-prima”, detalhou Ana Cristina.

Oportunidade local

Além da estrutura consolidada, Ana destaca o potencial do produto. “O café produzido aqui já atingiu pontuação acima de 80, sendo considerado café especial, com sacas podendo ultrapassar valores significativos de venda. É um mercado muito valorizado, e ter esse tipo de café, com qualidade reconhecida, aqui na nossa região, é uma oportunidade única para quem quer investir com segurança”, enfatizou a gerente financeira da Café Franciscano.

Resgate histórico

Além da inovação, o projeto resgata a memória agrícola da região. Entre as décadas de 60 e 70, o Vale do São Patrício foi conhecido por sua pujante produção de café, antes de o cultivo ser desestimulado por políticas públicas. Agora, com tecnologia, ciência e mercado favorável, a cultura do café volta com força. “Estamos corrigindo um erro histórico. O café tem espaço, cultivares modernas, tem clima e agora tem respaldo técnico para prosperar aqui”, afirma Cleiton.

Transformação regional

Mais que uma bebida, o café se torna símbolo de reinvenção regional. O projeto do Instituto Federal Goiano mostra que é possível unir pesquisa, ensino e extensão para transformar realidades. E a região do Vale do São Patrício, antes vista apenas como produtora de soja, milho ou cana e com a pecuária, agora ganha aroma, sabor e prestígio de uma nova cultura que promete deixar sua marca.

Dener Rafael

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