Três operações mais letais do Rio desde 2007 ocorreram durante gestão de Cláudio Castro


As três operações policiais mais letais do Rio de Janeiro desde 2007 ocorreram durante a gestão do governador Cláudio Castro (PL). A mais recente, batizada de Operação Contenção, foi deflagrada nesta terça-feira, 28, contra o Comando Vermelho (CV), nos complexos do Alemão e da Penha, e deixou ao menos 121 mortos, segundo a Polícia Civil. O número supera os números de Jacarezinho (2021) e Vila Cruzeiro (2022), tornando-se a ação mais letal já registrada no Estado. Procurado pelo Estadão, o governo do Rio não respondeu.

Dados da Defensoria Pública do Rio de Janeiro apontam 132 mortos no total por conta da Operação Contenção. Em coletiva após a ação, o governador afirmou que as únicas vítimas foram os quatro policiais mortos.

Castro assumiu o governo do Rio em agosto de 2020, após o afastamento do então governador Wilson Witzel, alvo de impeachment, que defendia “mirar na cabecinha” de criminosos. No total, as operações realizadas durante a gestão de Castro somam 1.846 mortos.

Os dados são do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI), da Universidade Federal Fluminense (UFF). “O GENI monitora o principal instrumento das ações em segurança pública, que são as operações policiais no Rio de Janeiro”, explica a pesquisadora e coordenadora do GENI/UFF, Carolina Grillo.

Na avaliação de Carolina, a declaração “precipitada” do governador sobre a operação realizada na terça-feira demonstra um “desrespeito com o valor da vida das pessoas que residem nas favelas e periferias, uma população de maioria negra”.

“Somente investigações futuras podem falar sobre as circunstâncias em que essas mortes ocorreram e determinar de fato se houve execuções sumárias, se houve mortes acidentais, se houve pessoas confundidas com traficantes no meio do tiroteio, se as pessoas morreram de bala perdida”, explica.

Maio de 2021 – Jacarezinho: 28 mortos

Menos de um ano após Castro assumir, o Rio de Janeiro registrou a operação que, até esta terça-feira, era a mais letal da história do Estado. A ação realizada no Jacarezinho deixou 28 mortos, sendo 27 civis e um policial. Segundo laudos do Instituto Médico Legal (IML), quatro vítimas foram baleadas pelas costas.

Um levantamento do Estadão mostrou que, das 27 pessoas mortas, 24 não tinham mandado de prisão nem tinham processos criminais no Tribunal de Justiça do Rio. A Polícia Civil alegou, à época, que a ação se baseou em dez meses de investigação e informações de inteligência. Dos 21 alvos efetivos da operação que não foram mortos ou presos, 15 não foram encontrados.

Maio de 2022 – Vila Cruzeiro: 23 mortos

Um ano depois, a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, foi alvo de nova operação, com 23 mortos. Nenhum policial estava entre as vítimas. Entre os mortos, 11 não tinham processo criminal. A ação reuniu o Bope, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, com uso de blindados e helicópteros.

Segundo as autoridades, o objetivo era capturar líderes do Comando Vermelho escondidos na comunidade. 13 fuzis, 4 pistolas, 12 granadas e 20 veículos foram apreendidos. Menos de três meses antes, outra operação no mesmo local, em 11 de fevereiro, havia deixado oito mortos, também sem prisões.

1.846 mortes em operações policiais

Desde que Cláudio Castro assumiu o governo do Rio de Janeiro, no fim de agosto de 2020, o Estado registrou 1.846 mortes em operações policiais. Entre setembro de 2020 e outubro de 2025, foram 8.035 ações do tipo, segundo levantamento do GENI.

No ranking das operações mais letais realizadas no Rio desde 2007, entre as 11 que ocupam as primeiras posições, seis ocorreram sob a atual gestão. Além das três operações já mencionadas, as outras três ações são: operação em Itaguaí que terminou com 12 mortos em outubro de 2020; incursão no Complexo do Alemão que resultou em 17 mortes, incluindo a de um policial, em julho de 2022; operação em São Gonçalo e Salgueiro que deixou 13 mortos em março de 2023.

“É importante ressaltar a ineficiência desse método de combate ao crime centrado em operações policiais, porque há décadas é isso que se faz aqui no Estado do Rio de Janeiro, isso foi ineficiente em conter o avanço do controle territorial armado”, destaca a pesquisadora Carolina Grillo.

Um relatório do Ministério Público do Estado (MP-RJ) mostrou que o governo do Rio fez, em média, 85 operações policiais por mês em comunidades desde o início da tramitação da ADPF das Favelas no Supremo Tribunal Federal (STF), em junho de 2020.

Especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que a operação desta terça é uma estratégia de alto risco e ineficaz no combate às facções criminosas. A Defensoria Pública da União (DPU), a Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ) e outras 29 entidades repudiaram a megaoperação. Em contrapartida, governadores de direita organizam uma comitiva para ir ao Rio de Janeiro e prestar apoio ao governador fluminense.



Por: Estadão Conteúdo

Estadão

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