Os juros futuros se descolaram do comportamento mais benigno do ambiente externo e da queda do dólar na segunda etapa do pregão desta segunda-feira, apagando o viés de baixa observado até o início da tarde. A reversão ocorreu por volta das 15h, logo após a divulgação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de agosto – que veio consideravelmente abaixo do esperado, mas não impediu que os DIs tocassem máximas intradia em toda a extensão da curva.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 aumentou de 14,037% no ajuste de sexta-feira para 14,065%. O DI para janeiro de 2028 subiu a 13,385%, de 13,338% no ajuste. O DI para janeiro de 2029 avançou de 13,231% no ajuste antecedente para 13,290%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,485%, vindo de 13,432% no último ajuste.
Segundo agentes, embora seja difícil apontar um gatilho específico para a piora do mercado de renda fixa, uma vez que a moeda americana se manteve no terreno negativo, a mensagem conservadora reforçada em discursos de autoridades do Banco Central em meio a um ambiente de expectativas desancoradas pode ter feito mais preço sobre a curva na sessão de hoje.
Ruídos de comunicação do governo também podem ter neutralizado o potencial alívio de uma frustração com o Caged: na semana passada, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, deu indicações de que o número de agosto seria fraco, o que pode ter provocado maior dispersão nas projeções, disse um participante do mercado à Broadcast.
No mês passado, foram abertas 147.358 vagas com carteira assinada, ante 134.251 postos de trabalho criados em julho. A mediana do Projeções Broadcast previa 182 mil vagas para a leitura atual. Pouco antes da publicação do Caged, o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Diogo Guillen, reforçou que a autoridade monetária segue desconfortável com o aquecimento do mercado de trabalho e com a desancoragem das expectativas inflacionárias em seu segundo compromisso público do dia, em evento do HSBC. O incômodo do Copom, segundo Guillen, ocorre muito mais em razão da inflação de serviços, que segue resiliente, por ter maior correlação com o hiato do produto.
Mais cedo, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, repetiu que a desancoragem das estimativas de inflação do mercado “incomoda bastante”.
Para o diretor de Investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, Marco Antonio Mecchi, não houve uma subida de tom dos dois representantes do BC em relação às comunicações recentes. Mas os discursos alinhadamente ‘hawkish’ seriam um contraponto ao Caged abaixo das expectativas, e reforçam a percepção de que a Selic vai permanecer em patamar restritivo por mais tempo. “Parece que o BC está bastante preocupado em relação ao nível de atividade do mercado de trabalho, que está superaquecido. A taxa de desemprego ficou em 5,6% em julho, e isso é coerente com o movimento da curva, que mostrou ajustes pequenos hoje”, avalia Mecchi.
No cenário da Azimut, o primeiro corte da Selic será em março de 2026. Mecchi pondera que alguns participantes do mercado apontam que o maior diferencial de juros em relação aos EUA, que ajuda a controlar o câmbio, pode contribuir para o BC reduzir a taxa básica mais cedo, mas esta não é a sua visão, justamente devido ao mercado de trabalho resistente.
Economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico afirma que, a despeito do headline mais fraco que o previsto, os salários de admissão e demissão do Caged ainda vieram elevados. O salário admissional real médio atingiu R$ 2.281, alta de 0,9% sobre agosto de 2024, e o salário demissional real médio cresceu 0,5% em igual base, para R$ 2.359. Damico também destaca as declarações mais conservadoras de Guillen hoje como outro fator que pode ter pressionado a curva na segunda etapa da sessão.
Por: Estadão Conteúdo