Taxas futuras andam de lado, entre ajuda do exterior e leilão do Tesouro

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A dinâmica benigna do exterior, após a firme deterioração observada nos mercados globais de renda fixa ontem, acabou prevalecendo sobre a curva de juros futuros doméstica no pregão desta quarta-feira. As taxas longas iniciaram a tarde em viés de elevação, depois de leilão extraordinário realizado no fim da manhã pelo Tesouro Nacional que colocou no mercado todas as 4,5 milhões de NTN-B ofertadas. O estresse, no entanto, teve curta duração, e os DIS andaram praticamente de lado no restante da sessão.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,987% no ajuste anterior a 13,995%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,341% no ajuste a 13,35%. O DI para janeiro de 2029 subiu de 13,322% no ajuste de ontem para 13,33%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,66%, de 13,659% no ajuste antecedente.

Nesta tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed) de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou que a política monetária tem hoje postura “marginalmente restritiva” e sinalizou que pode haver alguma flexibilização, provavelmente de 0,25 ponto porcentual, ao longo do ano. Já o presidente da distrital de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que as taxas de juros no país têm espaço para cair de forma lenta nos próximos anos.

Também reforçando a percepção de que uma redução dos Fed Funds se aproxima, o relatório Jolts, publicado hoje pelo Departamento do Trabalho dos EUA, indicou que abertura de postos de trabalho na economia americana caiu para 7,181 milhões em julho, ante previsão de 7,373 milhões dos analistas consultados pela FactSet. O dado de junho foi revisado para baixo, de 7,437 milhões para 7,357 milhões de vagas.

Segundo Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), que hoje teve sua segunda sessão, pode ter pressionado um pouco as taxas futuras nesta quarta. Mas houve um movimento generalizado de fechamento de curvas a termo hoje ao redor do mundo, o que acabou tendo mais peso sobre os DIs, avalia.

“Essa tendência foi capitaneada pelo dado mais fraco do mercado de trabalho americano, que jogou o juro global para baixo”, disse Lima. Ao mesmo tempo, os títulos soberanos da França e do Reino Unido, que tiveram uma escalada nesta terça-feira devido a preocupações fiscais sobre os dois países, hoje mostraram correção expressiva.

Por aqui, o IBGE divulgou o resultado da produção industrial de julho, que recuou 0,2% em relação a junho, feitos os ajustes sazonais – praticamente em linha com a mediana de estimativas do Projeções Broadcast, que apontava retração de 0,3%. O número anterior foi revisto ligeiramente para baixo, de alta de 0,1% para variação nula. “O ambiente restritivo e juros está impactando a atividade, em linha com o que esperamos para os dados que compõem o terceiro trimestre”, diz Lima.

Para o chefe de economia no Brasil e estratégia para América Latina do Bank of America (BofA), David Beker, “os astros estão se alinhando” para o Banco Central iniciar o aguardado o ciclo de corte de juros ainda neste ano. Além da perda de tração apontada pelo PIB do segundo trimestre, Beker mencionou a queda da inflação corrente e das expectativas para os próximos dois anos, em paralelo à tendência de dólar fraco em meio a incertezas relacionadas às tarifas e rumos fiscais nos EUA.

No cenário do BofA, a Selic será reduzida em 0,5 ponto porcentual na reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom), a 14,5%, recuando para 11,25% e 10,5% em 2026 e 2027, respectivamente.



Por: Estadão Conteúdo

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