Mesmo em um dia de agenda de indicadores fraca e pouca ajuda do dólar, que teve ligeira alta na sessão, os juros futuros negociados na B3 marcaram o terceiro pregão seguido de queda firme nesta quarta-feira, 22.
O comportamento benigno refletiu principalmente a leitura disseminada nas mesas de renda fixa desde o início da semana de que a dinâmica de preços tem evoluído de forma mais favorável, assim como perspectivas de um resultado mais baixo para o IPCA-15 de setembro, a ser divulgado nesta sexta-feira, 24.
A conjuntura de declínio das cotações de commodities em reais, melhora das expectativas inflacionárias e desaceleração da atividade poderia, na visão de alguns agentes, antecipar o ciclo de flexibilização monetária. Do lado fiscal, declarações do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, que sinalizaram maior comprometimento do governo com a meta de resultado primário também deram apoio à redução dos prêmios de risco, observa Rostagno.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 cedeu de 13,926% no ajuste de terça-feira para 13,880%. O DI para janeiro de 2028 caiu de 13,237% no ajuste para 13,170%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,145%, de 13,204% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2031 diminuiu de 13,485% no ajuste a 13,420%.
Segundo um operador de uma grande tesouraria, o quadro inflacionário está “muito bom”, com continuidade da queda das cotações de matérias-primas em reais e das estimativas do mercado para a alta do IPCA à frente. O cenário já positivo tem ainda ajuda adicional da redução de 4,9% da gasolina anunciada nesta semana pela Petrobras, acrescenta ele.
Para o operador, que falou em condição de anonimato, o ambiente de descompressão inflacionária ainda não dá conforto para uma redução mais tempestiva do juro básico, uma vez que o BC está com foco maior no mercado de trabalho e no câmbio. “Mas acho que o mercado está operando isso sim”, afirmou, acrescentando que os investidores podem te elevado a exposição aos DIs, no aguardo de um número menor para o IPCA-15 deste mês. “O IPCA-15 tende a ser bom”, concordou um gestor de renda fixa de uma grande asset.
Embora um corte não deva ocorrer em dezembro, tendo em vista o discurso duro do BC, a tendência de queda global das commodities e de valorização do real ao longo do ano retira pressão da inflação doméstica e abre espaço para que o ciclo de afrouxamento monetário tenha início entre a primeira e segunda reunião de 2026 do Copom, avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Os vértices curtos da curva refletem essa visão do mercado”, disse, enquanto os trechos mais longos têm acompanhado o fechamento da curva de Treasuries.
Já Rostagno, da EPS Investimentos, aponta que o cenário doméstico teve influência preponderante sobre o ‘price-action’ hoje, não só com a visão mais favorável do mercado sobre o comportamento da inflação, mas também após as declarações de Durigan a respeito de compensações para fazer frente à derrota da Medida Provisória (MP) 1.303.
No final da manhã, Durigan disse que a medidas desenhadas pelo Executivo devem render, em “linhas gerais”, o mesmo montante de receitas e cortes de despesas que eram previstos com MP do IOF, que somam cerca de R$ 30 bilhões. Os vértices mais longos da curva renovaram mínimas intradia após as falas. “As declarações do secretário foram positivas, ao reforçarem o compromisso com a meta”, avalia Rostagno.
Spiess, da Empiricus, pondera que, embora os juros futuros tenham recuado também em resposta ao plano do governo, as medidas apresentadas estão longe de endereçar o problema fiscal brasileiro, que são de ordem estrutural. Por isso, para ele, a leitura de convergência mais rápida da inflação fez mais preço na queda dos DIs nesta quarta.
Por: Estadão Conteúdo