Em um dia de agenda esvaziada de indicadores e sem condutores claros para guiar os investidores, o juros futuros caminharam em sentido contrário à performance positiva dos demais ativos domésticos e percorreram o pregão desta terça-feira em alta mais expressiva, com destaque para os vencimentos intermediários e longos. A ascensão teve sintonia com a abertura da curva americana em boa parte da sessão, às vésperas da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed), que deve reduzir o juro básico em 25 pontos-base.
Segundo agentes, o ganho de inclinação da curva a termo local, sem aparentes fundamentos econômicos para a piora, pode ter representado mais uma correção após a sequência bastante positiva para os DIs na semana anterior. No período, houve fechamento ao redor de 20 pontos-base nos vértices mais distantes, e de cerca 15 pontos-base nos trechos curtos.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,812% no ajuste de terça-feira para 13,820%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,08% no ajuste anterior a 13,120%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,080%, de 13,02% no ajuste. O DI para janeiro de 2031 avançou de 13,286% no ajuste da véspera a máxima intradia de 13,375%.
“Acredito que houve uma exaustão no movimento de alívio observado no período recente. Essa pressão na curva desta terça-feira, 28, talvez retire um pouco de prêmio acumulado nos últimos dias”, avalia Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset. Para Sichel, o racional de correção, considerando especificamente o pregão de hoje, é válido tanto nos vértices curtos quanto longos da curva. “Um ganho de inclinação da curva é natural quando começamos a observar aumento de apostas em direção a antecipação de ciclo de cortes. Isso não aconteceu, mas é algo já esperado”.
Diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, Tiago Hansen afirma que a sessão careceu de catalisadores para os juros futuros, que subiram mesmo com um conjunto de dados recentes mais benignos para os DIs, tais como o recuo das expectativas inflacionárias e moderação da atividade. “O mercado pode estar se preparando para a decisão do Fed desta quarta-feira, 29, embora um corte de 25 pontos-base já esteja precificado”, afirmou Hansen. “Todos os números estão de certa forma favoráveis, mas os DIs subiram. A leitura do pregão é difícil”, avaliou.
“Hoje, o ambiente é de cautela, com os mercados à espera da decisão do Federal Reserve amanhã e atentos aos desdobramentos da agenda comercial entre Estados Unidos e China”, afirmou Luis Felipe Laudisio, cogestor da mesa institucional de títulos públicos da Warren Investimentos. Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping devem se reunir na quinta-feira.
No âmbito fiscal, que elevou as taxas antes do movimento de descompressão observado na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça que o projeto de isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que ganham até R$ 5 mil está “próximo do equilíbrio fiscal”, mas a equipe econômica deve fazer cálculos adicionais. Isso porque, de acordo com estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI), o texto da forma como está gera R$ 1 bilhão de déficit por ano.
“O mercado segue atento a qualquer novidade que pode alterar a trajetória fiscal nos próximos trimestres, mas hoje os DIs não parecem ter reagido a questões fiscais ao longo do dia”, diz Sichel, da Porto Asset.
Por: Estadão Conteúdo









