O secretário de Estado americano, Marco Rubio, esteve em Israel neste domingo, 14, enquanto as Forças Armadas israelenses intensificavam os ataques ao norte de Gaza, destruindo prédios e matando pelo menos 13 palestinos.
Antes de embarcar, Rubio disse que buscaria respostas das autoridades israelenses sobre como elas veem o futuro em Gaza após o ataque de Israel aos líderes do Hamas no Catar na semana passada, que frustrou os esforços para negociar o fim do conflito.
A visita de dois dias também é uma demonstração de apoio dos Estados Unidos a Israel, que está cada vez mais isolado.
Nesta semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizará um controverso debate sobre o compromisso com a criação de um Estado palestino. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se opõe veementemente ao reconhecimento de uma Palestina independente.
Indignação dos EUA com o ataque ao Catar
A visita de Rubio ocorreu apesar da indignação do presidente Donald Trump com Netanyahu pelo ataque israelense em Doha, sobre o qual, segundo Trump, os Estados Unidos não foram notificados com antecedência.
No domingo, Netanyahu, Rubio e suas mulheres, juntamente com o embaixador dos EUA em Israel, Mike Huckabee, e sua esposa, visitaram o Muro das Lamentações.
“Acho que a visita dele (Rubio) aqui é uma prova da durabilidade e da força da aliança israelense-americana. É tão forte e duradoura quanto as pedras do Muro das Lamentações que acabamos de tocar”, disse Netanyahu.
Na sexta-feira, Rubio e Trump se reuniram com o primeiro-ministro do Catar para discutir as consequências da operação israelense. As duas reuniões consecutivas com Israel e o Catar ilustram como o governo Trump está tentando equilibrar as relações entre os principais aliados do Oriente Médio, apesar da ampla condenação internacional ao ataque em Doha, que matou pelo menos seis pessoas.
O ataque também parece ter encerrado as tentativas de garantir um cessar-fogo entre Israel e o Hamas na próxima sessão da Assembleia Geral da ONU, na qual a guerra em Gaza deve ser o foco principal.
Enquanto isso, ministros das Relações Exteriores de nações árabes e islâmicas se reuniriam em Doha no domingo para formar uma frente unida contra o ataque israelense antes de uma cúpula no Catar na segunda-feira, 15.
Ataques aéreos com vítimas
No domingo, pelo menos 13 palestinos foram mortos e dezenas ficaram feridos após ataques israelenses em Gaza, de acordo com hospitais locais.
Os hospitais locais afirmaram que os ataques israelenses tiveram como alvo um veículo perto do hospital Shifa e uma rotatória na cidade de Gaza, além de uma tenda na cidade de Deir al-Balah, que matou pelo menos seis membros da mesma família.
Dois pais, seus três filhos e a tia das crianças foram mortos nesse ataque, de acordo com o hospital Al-Aqsa. A família era da cidade de Beit Hanoun, no norte, e chegou a Deir al-Balah na semana passada após fugir de seu abrigo na cidade de Gaza.
As forças armadas israelenses não fizeram comentários imediatos sobre os ataques.
Como parte de sua operação de expansão na cidade de Gaza, as forças armadas destruíram vários prédios no domingo, após alertar os moradores para que evacuassem. Alguns foram destruídos menos de uma hora após a ordem de evacuação ter sido publicada online pelo porta-voz militar Avichay Adraee.
O exército disse que o Hamas havia posicionado postos de observação e meios para coletar informações sobre o movimento das tropas na área, e que militantes do Hamas estavam prontos para atacar as tropas israelenses.
Moradores disseram que a torre Kauther, no bairro de Rimal, foi totalmente destruída. Não houve relatos imediatos de vítimas.
“Eles querem transformar toda a cidade em escombros e forçar a transferência e outra Nakba”, disse Abed Ismail, morador da cidade de Gaza.
A palavra Nakba significa catástrofe em árabe e se refere ao momento em que cerca de 700 mil palestinos foram expulsos pelas forças israelenses ou fugiram de suas casas no que hoje é Israel, antes e durante a guerra de 1948.
Israel nega veementemente as acusações de genocídio em Gaza.
“O horizonte de Gaza está mudando”, escreveu o ministro da Defesa, Israel Katz, no X (antigo Twitter), junto com imagens dos ataques que destruíram um dos edifícios.
Fome em Gaza
Separadamente, dois adultos palestinos morreram por causas relacionadas à desnutrição e fome na Faixa de Gaza nas últimas 24 horas, informou o Ministério da Saúde do território no domingo.
Isso elevou o número de mortes por causas ligadas à desnutrição para 277 desde o fim de junho, quando o ministério começou a contar os óbitos nessa faixa etária, enquanto outras 145 crianças morreram por causas relacionadas à desnutrição desde o início da guerra em outubro de 2023, disse o ministério.
O órgão de Defesa israelense que supervisiona a ajuda humanitária em Gaza disse que mais de 1,2 mil caminhões com ajuda, principalmente alimentos, entraram em Gaza na semana passada.
Os trabalhadores humanitários dizem que a ajuda que chega até Gaza é pequena e insuficiente para as enormes necessidades do território. Grande parte dela também é saqueada antes de chegar aos palestinos que precisam desesperadamente dela.
Acesso à água
Equipes internacionais também concluíram os trabalhos de reparo em uma das três tubulações de água de Israel para Gaza, aumentando a quantidade diária de água que chega aos palestinos para 14.000 metros cúbicos (3,7 milhões de galões).
Nos 23 meses desde que Israel lançou sua ofensiva, o acesso à água em Gaza foi progressivamente limitado e a faixa agora está enfrentando um segundo verão escaldante em tempo de guerra.
Pais e filhos frequentemente correm atrás dos caminhões-pipa que chegam a cada dois ou três dias, enchendo garrafas, galões e baldes e depois carregando-os para casa.
A guerra em Gaza começou quando militantes liderados pelo Hamas invadiram o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, sequestrando 251 pessoas e matando cerca de 1,2 mil, a maioria civis. Ainda há 48 reféns em Gaza, dos quais 20 Israel acredita que ainda estejam vivos.
A ofensiva retaliatória de Israel matou pelo menos 64.871 palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas e não informa quantos eram civis ou combatentes. Segundo o ministério, cerca de metade dos mortos eram mulheres e crianças. Grande parte das principais cidades foi completamente destruída e cerca de 90% dos cerca de 2 milhões de palestinos foram deslocados.
Por: Estadão Conteúdo