quem eram os chefes do tráfico alvos de megaoperação no Rio


A investigação e denúncia do Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro à Justiça, que embasou a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha na última terça-feira, 28, detalhou os cargos e a hierarquia dos membros do Comando Vermelho (CV) que atuam na região, considerada uma das principais bases da facção criminosa.

Apesar de ter investigado e denunciado 69 membros do CV, o MP não participou da operação, que se tornou a mais letal da história do Rio, com ao menos 121 mortos, e foi realizada pelas polícias Civil e Militar. De acordo com o procurador-geral de Justiça do Estado, Antônio José Campos Moreira, o MP investigará as ações das polícias e está acompanhando o trabalho de reconhecimento dos corpos.

Segundo a investigação, o Comando Vermelho tem levado à frente, nos últimos anos, um “projeto expansionista”, concentrando ofensivas na região de Jacarepaguá, na zona oeste carioca. As disputas para avançar nessa guerra sangrenta, diz a Promotoria, vem “acarretando dezenas de mortes ao longo dos últimos anos, além de incremento da sensação de violência na região”.

“É uma cadeia de comando rigidamente estabelecida e cumprida, com emissão de ordens, além de punições severas aos descumpridores das diretrizes”, destaca a denúncia. A investigação interceptou trocas de mensagens e imagens que evidenciam uma rotina de abusos e desmandos, em um ambiente onde vigora uma justiça paralela, com execuções e torturas.

As conclusões e os materiais obtidos pelo MP fazem parte do conjunto probatório usado pelos investigadores para, nos últimos meses, obter na Justiça mandados de prisão contra envolvidos com a facção. Após 75 dias de planejamento, as forças policiais juntaram uma série de ordens judiciais na terça-feira e invadiram as comunidades para cumprir 180 mandados de prisão e busca e apreensão.

Os alvos da megaoperação incluíam nomes como Doca e Pedro Bala, do alto escalão do CV; Síndico e Gardenal, homens de confiança de Doca; e Juan BMW, um dos “gerentes”. O Estadão não localizou as defesas dos citados.

Doca e Pedro Bala: o primeiro escalão

Os traficantes Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso, de 55 anos, e Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, de 43 anos, são apontados na denúncia como integrantes do primeiro escalão do grupo na Penha e em outras comunidades cariocas. O Estadão teve acesso a um recorte de 74 páginas da investigação, que teve início na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).

A liderança de Doca e Pedro Bala é indicada em prints de conversas de WhatsApp que constam na denúncia. Em uma mensagem, o recado é claro: “ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala.” Fotos obtidas pelos investigadores mostram que homens armados com fuzis e até cachorros fazem a segurança desses líderes, em casas no alto dos morros.

Para os promotores, ambos dão ordens diretas “sobre a dinâmica do tráfico de drogas no Complexo da Penha e comunidades adjacentes, inclusive sobre venda e guarda de drogas, armas de fogo de grosso calibre e contabilidade da facção criminosa.”

Conforme a denúncia, mesmo com a posição de chefia de Pedro Bala, Doca é a principal liderança do Comando Vermelho na Penha e nas comunidades do Juramento, Quitungo, Alemão, Gardênia Azul e César Maia – as duas últimas conquistadas recentemente da milícia.

No dia da megaoperação, o Disque Denúncia do Rio de Janeiro divulgou o cartaz de procurado de Doca, oferecendo recompensa de R$ 100 mil por informações que levem a polícia até ele. Trata-se da maior recompensa da história do Disque Denúncia, ao lado dos mesmos R$ 100 mil, sem considerar a inflação, oferecidos por informações que levassem a Fernandinho Beira-Mar, em 2000.

Síndico e Gardenal: homens de confiança de Doca

Abaixo de Doca e Pedro Bala, estão, segundo as autoridades, Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão ou Síndico da Penha, de 35 anos, e Carlos Costa Neves, o Gardenal, de 30 anos, que seria também um dos comandantes da expansão da facção sobre áreas de milícia na zona oeste, em guerra que se arrasta há cerca de três anos e já deixou dezenas de mortos.

Os dois são descritos na denúncia como “os homens de maior confiança de Edgar Doca”. “Eles ostentam a função de gerente-geral do complexo da Penha”, diz o documento. Entre as atividades, estão ordens sobre a venda de drogas, determinar escalas de plantão nas bocas de fumo e pontos de monitoramento e contenção (segurança armada, inclusive na mata).

Uma conversa obtida pela investigação mostra Síndico determinando que os membros da facção não portassem fuzis e não consumissem bebidas alcoólicas durante um baile para os moradores da Penha. “Outra função exercida por ele é organização dos pagamentos dos traficantes locais.”

Além de gerente-geral, a investigação mostra que Gardenal é responsável por liderar a expansão violenta e criminosa do Comando Vermelho na região de Jacarepaguá. Ele também atua na organização do poder bélico do CV e orienta traficantes sobre a compra de armas e drones de vigilância.

“Em diversas fotos vindas da quebra da telemática, é possível verificar que ele ostenta armamentos de alto calibre, bem como lida com vasto montante de dinheiro, vindo, principalmente, do tráfico ilegal de drogas e atividades criminosas adjacentes. Ele ostenta carros de luxo e vistosas joias”, diz a denúncia.

Gardenal comanda os subordinados com violência, aponta as autoridades. Os investigadores interceptaram ordens de execução de subalternos e orientações sobre como gerentes locais devem lidar com seus comandados de modo a manter a disciplina.

“Ele demonstra liderança e frieza ao determinar a execução de vapor tão somente por estar supostamente ‘perdendo’ carregamento, orientando que o gerente ‘da boca’ o mate na frente de ‘geral’, justamente para dar exemplo aos demais”, indica a denúncia.

BMW, o chefe dos matadores

Na hierarquia mostrada pela denúncia, depois dos gerentes-gerais estão os gerentes do tráfico de áreas dominadas pelo CV. Há também traficantes que gerenciam áreas e que são responsáveis pela venda de um tipo específico de droga, como maconha e crack.

Juan Breno Malta Ramos, o BMW, gerencia o tráfico na Gardênia Azul, zona oeste do Rio. Além disso, segundo os promotores, ele comanda o chamado grupo “Sombra”, que reúne matadores a serviço do CV, “atuando na expansão territorial da facção criminosa pela região da grande Jacarepaguá”.

Os investigadores afirmam ter tido acesso a um vídeo em que um homem é “arrastado por um carro, amordaçado e algemado, por alguns minutos, supostamente para confessar participação em uma delação a um grupo rival.”

Segundo os promotores, “em meio a gritos implorando por perdão”, o rapaz alvo das agressões cita o nome de BMW várias vezes, enquanto o traficante “faz piada do sofrimento alheio, debochando da vítima agonizante.” Uma imagem anexada à denúncia mostra que a tortura estava sendo transmitida em vídeo. O rosto de Gardenal, vulgo Deus, aparece como sendo o telespectador do crime.

“(BMW) goza de prestígio e atua em alta posição hierárquica dentro do Comando Vermelho. Ele atua na área operacional, na liderança de um grupo violento que emprega armas de fogo de grosso calibre em suas ações e atua com violência extrema contra rivais”, dizem os promotores.

Juan BMW ascendeu no Comando Vermelho, o que lhe rendeu, segundo a denúncia, autonomia para autorizar entregas de dinheiro para liberar traficantes aliados detidos por outros grupos. “O crescimento do denunciado provoca, por óbvio, maior arrecadação financeira de sua parte. De tal modo, há indícios de que ele utilize de empresas de fachada para lavagem de dinheiro”, aponta.

Ele também tem a função de treinador dos soldados do tráfico, em função da “larga experiência no emprego de armas de grosso calibre”.



Por: Estadão Conteúdo

Estadão

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