o que explica desabafo de Renato no Fluminense

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Renato Gaúcho deixou os Estados Unidos, em julho, prestigiado pela campanha do Fluminense. Não à toa. Com a eliminação na semifinal diante do Chelsea, os cariocas terminaram com a melhor campanha de um brasileiro na competição. Mario Bittencourt, presidente, cravou no vestiário após o jogo que a equipe voltaria ao País para ser campeã. Pouco mais de dois meses depois, e com a queda na Copa Sul-Americana, o Fluminense ainda pode conquistar títulos nesta temporada, mas já sem o comandante à beira do campo.

O empate por 1 a 1 diante do Lanús, nesta terça-feira, pôs um ponto final na passagem de Renato Gaúcho pela equipe em que ficou eternizado pelo “Gol de Barriga”. Não por vontade do clube, mas por um desgaste do treinador com torcida, imprensa e redes sociais. Na entrevista coletiva, depois de pouco mais de 15 minutos respondendo aos questionamentos dos repórteres no Maracanã, informou brevemente que não seguiria no comando. “Vou sair para descansar a cabeça e deixar alguns gênios da internet continuarem falando de futebol, já que entendem para caramba”, disse.

Jogadores na zona mista foram pegos de surpresa com a decisão do treinador, tendo sido informados ainda no vestiário após o jogo. Marcão, auxiliar técnico permanente do clube, comandará a equipe na próxima partida contra o Botafogo, pelo Campeonato Brasileiro, até que um novo nome seja definido. Alexandre Mendes e Marcelo Salles também deixam Laranjeiras.

Até esta terça-feira, o Fluminense era a única equipe brasileira que seguia disputando três competições. Além do Brasileirão, está vivo na semifinal da Copa do Brasil, quando enfrentará o Vasco, em dezembro. Em seu desabafo, Renato chegou a afirmar que não deixaria o clube caso a situação na temporada fosse ruim. “Estamos muito bem no Campeonato Brasileiro e muito bem na Copa do Brasil. Se o Fluminense estivesse mal no Brasileiro, eu não estaria saindo.”

A saída de Renato, ainda que uma surpresa neste momento, evidencia a insatisfação do treinador nas últimas partidas. Além do desabafo desta semana, ele acumulou reclamações desde que assumiu a equipe, em abril. Mostrou incômodo com as redes sociais, concordou com Mano Menezes quanto ao Brasil não ter mais jogadores “decisivos”, cobrou reforços, antes do Mundial de Clubes, que pudessem decidir, e, principalmente, mostrou animosidade na relação com a imprensa.

“Eu sempre falo que vocês não têm as informações que eu tenho. Poupei o Samuel (Xavier) no último jogo. Hoje ele teve uma lesão grave. Com todo respeito ao trabalho de vocês, não podem, nem de longe, querer discutir com um profissional do futebol. Temos todas as informações”, disse, após a derrota por 1 a 0 diante do Bahia, pelas quartas de final da Copa do Brasil.

Essa postura foi recorrente desde o início do trabalho. Em outro momento, deu bronca nos jornalistas durante a entrevista coletiva. “Fala para eles que a resenha é lá fora”, disse, depois de empate por 0 a 0 com o Santos, na Vila Belmiro.

ÁPICE NO MUNDIAL E QUEDA DE RENDIMENTO

Renato e o Fluminense viveram um período especial nos Estados Unidos. A campanha contou com vitórias sobre Inter de Milão e Al-Hilal, e um empate sem gols com o Borussia Dortmund, ainda na fase de grupos, com um desempenho superior sobre o rival. À época, Renato mostrava uma “simbiose” junto ao elenco, chegando ao ponto de acatar sugestões do capitão Thiago Silva sobre o melhor posicionamento da equipe em campo.

Também exaltou a campanha do Fluminense sobre os rivais europeus milionários. “Não tem jogo fácil e esse Mundial de Clubes tem provado isso. Não adianta você ter um time de R$ 400, R$ 500 milhões.” Após a eliminação para o Chelsea, o retorno ao Brasil foi diferente daquele que a comissão técnica e Bittencourt imaginavam.

A sequência no Brasileirão, contra Cruzeiro, Flamengo, Palmeiras e São Paulo viu o Fluminense amargar quatro derrotas consecutivas. Renato chegou a balançar no comando técnico nesse período, mas foi mantido à frente do clube após derrotar o Internacional, em Porto Alegre, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, que foi seguido por uma sequência de sete jogos sem perder.

Nesse período, ainda conseguiu ter à disposição o elenco completo. Soteldo, contratado para o Mundial Clubes, mas que sofreu com problemas musculares, e Germán Cano, reforçaram a equipe no Brasileirão. O mesmo na Sul-Americana, que era uma das esperanças de título nesta temporada.

A sequência positiva foi interrompida no compromisso com o Red Bull Bragantino, pelo Campeonato Brasileiro. E na ocasião, o treinador também criticou publicamente os jogadores. “Antes de entrar em campo, reuni o grupo e falei novamente para eles: ‘Estou sentindo que vocês não estão focados no trabalho, vão entrar lá e infelizmente vai acontecer o pior. Estou avisando vocês para acordarem’. E aconteceu”, contou. A derrota por 4 a 2 interrompeu a ‘lua de mel’ vivida com o elenco.

Depois disso, o mês de setembro, com apenas duas vitórias em cinco jogos, e com eliminação para o Lanús, não conseguiu respaldar o treinador. Em uma das últimas falas na entrevistas coletivas, ele ainda deixou o recado para o futuro treinador, e um último ataque aos jornalistas: “Vai estar outro cara aqui, vocês vão fazer as mesmas perguntas para ele, e eu quero ver as respostas que vai dar. Quero ver se vai colocar o time que o torcedor quer ou o time da cabeça dele.”

Desde abril, o Fluminense disputou 42 jogos com Renato, e somou 21 vitórias, nove empates e 12 derrotas. O novo treinador que assumir terá 16 partidas do Brasileirão a disputar e, ao menos, as semifinais da Copa do Brasil até o final da temporada.



Por: Estadão Conteúdo

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