‘Nunca lutei judô por reconhecimento’


A judoca Edinanci Silva só acreditou que estava entrando para o Hall da Fama do COB quando tiraram os moldes de suas mãos para gravá-los na seleta galeria, e teve certeza de que não estava sonhando quando foi ovacionada de pé pelo público no Copacabana Palace, nesta terça-feira.

Tal homenagem é um símbolo do reconhecimento à contribuição ao esporte realizada pela paraibana de 48 anos, que enfrentou preconceito na década de 1990 por ser uma pessoa intersexo.

Dona de dois bronzes em Mundiais e de um quinto lugar como melhor resultado de quatro participações em Olimpíadas, a judoca teve maior entendimento do impacto que causou no esporte ao ser lembrada na posição de ícone, mas ser reconhecida era a última das coisas na qual pensa quando o assunto é judô.

“Eu nunca pratiquei judô para ter reconhecimento. Todas as vezes que eu fui para uma competição, eu fui em busca de um bom resultado. Com objetivo de ter recurso financeiro. Vendo tudo isso acontecendo na minha vida agora, eu vejo a importância do que eu construí para o judô brasileiro. Eu vou até parar de falar, se não vou borrar a maquiagem. Me emociona receber esse carinho”, disse.

No requintado hotel, a judoca foi agraciada com a entrada no Hall da Fama junto da ginasta Daiane dos Santos e do tenista Gustavo Kuerten, o Guga. O evento também serviu para homenagem póstuma a Afrânio Costa, primeiro medalhista olímpico da história do Brasil, uma prata conquistada no tiro desportivo em 1920.

“Me fizeram colocar um blazer, passaram uma massa corrida para tirar as manchas de sol da minha cara. Estou em outro mundo. Me ligaram agora há pouco: ‘você não vai aparecer aqui no treino’. Falei: ‘rapaz, estou aqui em um universo paralelo, acabei de entrar no Copacabana Palace”, brincou Edinanci.

“Eu fiquei com o coração acelerado. Da noite que eu recebi até outro dia de manhã. O COB foi lá e postou uma foto, aí eu falei: ‘agora acho que é verdade’. Está difícil de acreditar. Tiraram as marcas das ‘patas’. Sou de uma cidade chamada Sousa, a cidade do dinossauro. Falei, eles tirando e eu lembro dos fósseis. Parece que eu estou sonhando, que daqui a pouco vou acordar e vão falar: ‘é hora de trabalhar'”, concluiu.

Como pessoa intersexo, Edinanci nasceu com características sexuais que não sei encaixam nas nações binárias de masculino e feminino. Submetida a uma cirurgia para retirar testículos internos, sofreu preconceito e teve sua identidade de gênero questionada. Chegou, inclusive, a ter que se submeter a testes para poder competir.

Enquanto vivia o seu auge como atleta, tinha também de lidar com piadas sobre sua aparência e até pensou em abandonar o judô. Duas décadas depois, no palco do Copacabana Palace, foi aplaudida de pé por mais de um minuto quando subiu para ser eternizada no Hall da Fama.

A judoca campeã olímpica em Paris 2024, Bia Souza, foi chamada ao palco para conduzir a homenagem. A placa com suas mãos eternizadas foi entregue pelo campeão olímpico no vôlei de praia e Diretor Geral do COB, Emanuel Rego.

“É uma felicidade enorme estar aqui, porque é muita luta, muita entrega para a gente chegar numa competição de quatro em quatro anos, entrar no tatame e fazer quatro minutos de luta, muitas vezes vira apenas 30 segundos, as vezes 15 segundos. Foi muita batalha e eu só tenho a agradecer: ao COB por acreditar todas as vezes que eu estive lá representando o país, a CBJ também, que acreditou no meu sonho, e a todos os técnicos que participaram da minha carreira, em especial a tia Rose (Rosicleia Campos) que está aqui”, disse.



Por: Estadão Conteúdo

Estadão

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