‘Não removemos ninguém à força’


A Rua dos Protestantes, que abrigava o fluxo da Cracolândia, como é chamada a aglomeração de usuários de drogas em cenas de uso, amanheceu esvaziada no começo desta semana.

Havia apenas duas viaturas da Guarda Civil Metropolitana (GCM), uma em cada extremidade da rua, quando o Estadão esteve no local, por volta das 16h desta terça-feira, 13. “Vamos continuar fazendo patrulha aqui”, disse uma guarda, que preferiu não se identificar.

Ao lado dela, outros três agentes encaravam o vazio da rua, ainda com a água secando no chão de uma limpeza recente.

Até a semana passada, moradores estimam que cerca de 200 dependentes químicos se amontoavam por ali.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) mostrou surpresa com o esvaziamento repentino, mas destacou as ações que vinham sendo adotadas nos últimos meses.

“(A queda de usuários) Surpreendeu. Verdadeiramente surpreendeu. Obviamente já vinha reduzindo gradativamente todos os dias a quantidade de pessoas. Mas vamos continuar monitorando”, afirmou o prefeito após visita às instalações do aterro sanitário Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL), em São Mateus, nesta terça-feira, 13.

“O episódio em especial, de sábado para cá, na rua dos Protestantes (esvaziamento), nós ainda estamos tentando entender. Não dá para dizer que está resolvido. Podemos associar algumas questões a essa situação”, disse Nunes.

Entre os fatores que contribuíram para o esvaziamento da Cracolândia, na visão do prefeito, estão as ações do governo do Estado e da Prefeitura para enfraquecer o tráfico de drogas na favela do Moinho.

Guardas e comerciantes ouvidos sob condição de anonimato também disseram não saber ao certo o motivo do esvaziamento da rua. Alguns lojistas levantaram a hipótese de ser uma ordem do Primeiro Comando da Capital (PCC), que comanda o tráfico por ali, mas por enquanto não há confirmação oficial disso.

Por ora, os sentimentos de quem trabalha e mora na região são divididos. “A princípio, a gente acha que vai melhorar, mas tem que ver se eles realmente não vão voltar”, afirma a lojista Edna Pereira, de 54 anos. Segundo ela, o esvaziamento começou no fim de semana.

Entidades e ONGs que atuam na região apontam que a política de dispersão dos usuários se tornou mais violenta nos últimos meses.

“A partir do momento que sufocaram as estratégias de sobrevivência e aumentaram o nível de violência, eles (poder municipal) conseguiram fazer com que as pessoas deixassem a região”, afirma Giordano Magri, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole. “A questão agora é onde esse espalhamento vai reverberar”, completa.

Todas as experiências internacionais apontam que o cuidado deve ser uma preocupação central na relação com pessoas com uso problemático de substâncias químicas, diz o especialista.

“O cuidado integral fica comprometido e também a possibilidade de encontrar um agente de saúde, por exemplo”, afirma.

Orlando Morando, secretário de Segurança Urbana de São Paulo, nega o uso de violência. “Não removemos ninguém à força. Não fizemos nenhuma abordagem violenta, não há nenhuma imagem ou denúncia contra a GCM”, diz o secretário ao Estadão.

O secretário detalha as medidas que foram adotadas nos últimos dias na região. “Não estamos mais permitindo a entrada com cachimbos, intensificamos as buscas por drogas com cães da GCM e conseguimos sufocar o tráfico na favela do Moinho. A chegada da droga na rua dos Protestantes está mais difícil”, diz.

Em grupos de WhatsApp, comerciantes da região têm manifestado receio quanto a um espalhamento do fluxo para regiões ainda mais movimentadas, como a Rua Santa Ifigênia, a poucas quadras dali, ou para a Rua José Paulino, no Bom Retiro.

“Os políticos vão bater no peito e dizer que acabaram com a Cracolândia. Mas agora sim nossa vida volta a ser um inferno”, diz uma moradora, em mensagem publicada em um grupo que reúne lojistas.

Morando afirma que o problema não está solucionado, mas que as forças de segurança ainda não identificaram novos pontos de aglomeração. “Não teremos novas Cracolândias”, promete.

Enquanto a reportagem percorreu a região, na tarde desta terça, alguns pequenos grupos de usuários direcionavam-se à Rua Santa Ifigênia. Vendo a rua completamente vazia, iam embora sem entender. Equipes de atendimento social da Prefeitura de São Paulo também foram vistas na região.



Por: Estadão Conteúdo

Estadão

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