O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que apoiaria a exclusão da equipe Israel Premier Tech da Volta da Espanha, tradicional prova de ciclismo do país. O time israelense foi alvo de um protesto pró-palestino que interrompeu o evento nesta semana.
Albares afirmou na quinta-feira à noite que “compreenderia e seria a favor” da retirada da equipe israelense da disputa, acrescentando que seu governo não afirma ter o poder para fazê-lo. Ele fez a declaração em resposta a uma pergunta de um jornalista da rádio nacional espanhola RNE.
“Temos que enviar uma mensagem a Israel e à sociedade israelense de que a Europa e Israel só podem ter relações normais quando os direitos humanos são respeitados”, disse Albares.
O protesto de quarta-feira na cidade de Bilbao, no norte do país, teve como alvo a equipe Israel Premier Tech, enquanto Israel continua sua invasão militar em Gaza, que matou dezenas de milhares de civis em retaliação aos ataques do Hamas em outubro de 2023.
Na quarta-feira, o protesto produziu cenas caóticas de uma multidão empurrando as barreiras metálicas temporárias ao longo do trecho final do percurso. Houve uma correria de seguranças e policiais para conter os manifestantes, que quase invadiram a pista, o que teria gerado acidentes de grandes proporções com os ciclistas em alta velocidade. Os integrantes do protesto carregavam bandeiras da Palestina e cartazes pró-Palestina.
Os organizadores da corrida cancelaram a etapa de quarta, a cerca de 10 quilômetros (6,2 milhas) do final do percurso circular que saía e entrava em Bilbao. Não houve vencedor da etapa. Imediatamente após o incidente, os organizadores da Volta da Espanha emitiram uma declaração condenando os “eventos que ocorreram”, ao mesmo tempo em que apoiavam o direito ao protesto pacífico.
“A La Vuelta respeita e defende o direito à manifestação pacífica no contexto do evento, mas não pode tolerar quaisquer atos que coloquem em risco a segurança física dos participantes ou de qualquer membro da caravana da corrida”, dizia a declaração.
O diretor técnico da competição, Kiko Garcia, indicou que a Israel Premier Tech deveria considerar desistir ou que a União Ciclística Internacional (UCI), órgão regulador do ciclismo, deveria intervir, pois havia o risco de mais protestos se a corrida continuasse. “Em algum momento, alguém terá que decidir se protegemos um evento internacional como a Vuelta ou se protegemos uma equipe”, disse García.
“Todos precisam tentar encontrar uma solução, que para mim, neste momento, é que a equipe israelense perceba que estar aqui não contribui para a segurança de todos os outros. Mas não podemos tomar essa decisão, a equipe tem que tomá-la”, disse ele.
A Israel Premier Tech, no entanto, afirmou que não iria desistir. “Qualquer outra medida cria um precedente perigoso no ciclismo – não apenas para a Israel Premier Tech, mas para todas as equipes”, afirmou.
A UCI condenou o incidente, afirmando que “o ciclismo, em particular, tem um papel a desempenhar na aproximação das pessoas e na superação das barreiras entre elas, e não deve, em circunstância alguma, ser usado como ferramenta de punição”. A entidade se recusou a comentar as declarações do ministro quando questionada pela agência de notícias Associated Press.
A causa palestina é apoiada por muitos espanhóis, incluindo seu governo de esquerda, que reconheceu um Estado palestino no ano passado.
A etapa de quinta-feira transcorreu conforme o planejado, sem mais protestos. Ela foi realizada na região rural da Cantábria. O ex-campeão da Volta da França, Jonas Vingegaard, lidera a corrida de três semanas após 12 etapas.
Por: Estadão Conteúdo