O assassinato de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo, na Praia Grande, nesta segunda-feira, 15, é mais um capítulo de uma série de episódios de violência entre as forças de segurança e o crime organizado no litoral de São Paulo. Fontes era conhecido pela atuação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC). Os conflitos na região escalaram desde meados de 2023.
Em dezembro daquele ano, o próprio Fontes foi vítima de um assalto na Praia Grande. Ao Estadão, o ex-delegado-geral havia relatado preocupação: “Eu combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro. Minha família, agora, quer que eu deixe o emprego em Praia Grande e saia de São Paulo”.
Mais cedo, em 27 de julho, dois policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da Polícia Militar, foram baleados, na Vila Zilda, no Guarujá. Um deles, o soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu quando recebia atendimento. Um dos suspeitos também foi morto.
A morte do PM desencadeou uma grande mobilização das forças de segurança, com 600 agentes de equipes especializadas das polícias Civil e Militar.
A Operação Escudo bloqueou acesso a bairros e contou com 600 agentes de equipes especializadas das polícias Civil e Militar. Entre os dias 28 de julho e 5 de setembro, o número de mortes em ações policiais chegou a 28.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) defendeu a operação e afirmou que as ações tinham intuito de “sufocar o tráfico de drogas e combater o crime organizado na Baixada Santista”.
Segundo a pasta, de 28 de julho a 3 de setembro, 805 pessoas foram presas. Desse total, 311 eram procurados pela Justiça e estavam foragidos. No período, as forças de segurança apreenderam 96 armas e 939 kg de entorpecentes.
Por outro lado, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) apontou para relatos de excessos das forças de segurança, como execuções e torturas.
Na época, a reportagem do Estadão ouviu relatos de que até mesmo um cão foi morto em ação que também acabou com a morte de um jovem de 22 anos.
A Operação Escudo levantou novamente o debate sobre uso de câmeras corporais pelos agentes de segurança. Em denúncia oferecida pelo Ministério Público (MP), dois PMs eram acusados de cobrir suas câmeras para plantar uma arma de fogo e forjar um confronto contra uma das vítimas contabilizada durante as ações em 2023.
Ao fim da operação, a Rota teve trocas no comando, com a promoção do tenente-coronel Leonardo Akira Takahashi no 1º Batalhão de Policiamento de Choque (BPChq) e a transferência de Rogério Nery Machado para o 4º BPChq. O movimento foi tido como “normal” para o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.
Mortes de PMs precedem novas operações, que fazem mais vítimas
Seis meses depois, em janeiro de 2024, uma nova morte de um PM motivou a retomada da Operação Escudo. O soldado Marcelo Augusto da Silva, de 28 anos, havia trabalhado na Operação Verão, em Praia Grande, e retornava para São Paulo quando foi atacado na Rodovia dos Imigrantes, em Cubatão, também na Baixada Santista.
Em 2 de fevereiro de 2024, o agente da Rota Samuel Wesley Cosmo, 35 anos, também foi morto, em Santos. No mesmo município, cinco dias depois, o cabo do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), José Silveira dos Santos, também morreu, em um novo enfrentamento contra criminosos.
A partir dos dois casos, 27 pessoas foram mortas em ações policiais nas cidades litorâneas. Uma delas era o homem conhecido como “Danone”, apontado como líder de uma facção criminosa “envolvida com o tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro, tribunal do crime e atentado contra agentes públicos” no Guarujá.
Em abril, a PM mobilizou-se mais uma vez a partir do desaparecimento de um soldado da corporação, no Guarujá. O corpo de Luca Romano Angerami foi localizado pouco mais de um mês depois, na Vila Baiana, no município litorâneo.
Guarujá tem base da PM atacada
A onda de violência entre crime organizado e policiais não cessou. Em outubro de 2024, uma base da PM foi alvejada por dois homens em uma moto. A sede fica no bairro Vila Zilda, no Guarujá. Depois, quatro agentes que faziam ronda de moto na Avenida Prefeito Raphael Vitiello, na mesma região, também foram alvo de disparos ao abordar suspeitos.
Foi na região da Vila Zilda que aconteceu a morte de Patrick Bastos Reis, que precedeu a primeira Operação Escudo. Houve um deslocamento de agentes para o litoral paulista diante dos casos.
Na tentativa de conter o crime organizado, mais mortes decorrem de ações da polícia, mesmo sem atuação de grandes operações. Em agosto, Luken Cesar Burghi Augusto, um dos criminosos mais procurados do País e chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital), foi morto depois de entrar em confronto com os policiais da Rota, na Praia Grande.
Foragido da Justiça, ele foi condenado a 46 anos e 11 meses de prisão. O criminoso participou de um mega assalto a uma empresa de transporte de valores, a Protege, na cidade de Araçatuba (SP), em 2017.
Por: Estadão Conteúdo