Irmã de Leo do Moinho é ‘síndica’ de QG do tráfico e extorquiu moradores reassentados, diz MP

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Presa nesta segunda-feira, 8, em uma operação conjunta do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Militar, Alessandra Moja Cunha, que se apresenta como líder comunitária da Favela do Moinho, na região central da capital paulista, estaria trabalhando como cúmplice do irmão, o traficante Leonardo Moja, o “Leo do Moinho”, segundo a investigação.

Ao pedir a prisão, o Gaeco, braço do Ministério Público que combate o crime organizado, cravou que Alessandra ajuda o irmão “em suas empreitadas criminosas”. O Estadão busca contato com a defesa.

Ela é o principal alvo da Operação Sharpe, desdobramento da Salus et Dignitas, deflagrada em agosto do ano passado, que atacou o “ecossistema criminoso” do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Centro de São Paulo.

Alessandra teria diferentes papéis na organização liderada por Leo do Moinho, de acordo com o Ministério Público. Ela atuaria, por exemplo, como uma espécie de síndica dos prédios construídos pelo irmão na favela, que serviam para a moradia de traficantes e armazenamento de drogas.

“Constitui o local onde se observa maior resistência do tráfico em relação à presença das autoridades públicas”, descreve a investigação.

Também seria a administradora do ferro-velho Moinho, que teria sido usado para lavar dinheiro do tráfico de drogas. Mensagens obtidas no inquérito mostram que ela prestava contas regularmente a Leo do Moinho sobre a contabilidade do negócio. O ferro-velho está registrado em nome de outro irmão, Jefferson Francisco Moja Teixeira, que já foi denunciado no caso.

“Em dada ocasião, Alessandra também comunicou a Leonardo Moja problemas com a Polícia Civil por conta do fornecimento de energia elétrica no ferro-velho e chegou a enviar ao irmão foto da viatura ao ser questionada por ele sobre a delegacia envolvida”, aponta o MP na representação que levou Alessandra à prisão.

A Operação Salus et Dignitas revelou como o PCC montou uma rede de galpões de reciclagem e ferros-velhos para receptar objetos furtados e roubados no centro, especialmente fios de cobre. Leo Moinho foi preso na operação. O esquema funcionou com a exploração clandestina da mão de obra de moradores da Cracolândia. Segundo a investigação, eles trabalhavam em condições degradantes e eram pagos com bebidas e drogas.

Antes de ser preso, Leo Moinho era o responsável pelo tráfico de drogas na Favela do Moinho e pelo controle da “disciplina” na comunidade. O Ministério Público afirma que ele era comunicado em tempo real sobre tudo o que acontecia na região. Foi Alessandra quem alertou o irmão sobre a deflagração da Operação Salus et Dignitas, no dia 6 de agosto de 2024. “Operação. Agora”, escreveu ela no WhatsApp. A mensagem foi recuperada na investigação.

Para os investigadores, ela “agia em nome do irmão” na disciplina da comunidade. Conversas obtidas pelo MP mostram que ela pediu providências a Leo do Moinho até sobre o descarte de lixo próximo à linha do trem.

Alessandra se apresenta como líder comunitária, mas na verdade gerenciaria um esquema de extorsão dos moradores, segundo o Ministério Público. Ela teria cobrado propinas das famílias que entraram em acordo com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) para o seu reassentamento. O governo quer instalar um parque na região.

O cadastro das famílias teria sido condicionado ao “pagamento de valores à família Moja”, aponta a investigação.

“Tanto os valores arrecadados neste contexto como os recursos derivados das demais atividades ilegais controladas por ‘Léo do Moinho’ são arrecadados por Alessandra com o intuito de branqueamento”, concluiu o MP.

Ao decretar a prisão, a juíza Mariana Moraes Labre, da 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem, justificou que ficou “evidenciada a imperiosidade dos investigados para a estrutura delitiva havida na região, o que demonstra o perigo concreto à ordem pública”.

Além de Alessandra, também tiveram a prisão preventiva decretada Yasmin Moja Flores, filha dela; Leandra Maria de Lima, cunhada de Leo do Moinho; José Carlos Silva, o “Carlinhos”, que teria assumido o comando do tráfico de drogas na região após a prisão de Leo do Moinho; Jorge de Santana e Cláudio dos Santos Celestino, o “Xocolate”, apontados como responsáveis por armazenar drogas e armas; Ronaldo Batista de Almeida, o “Chorão”, e Reginaldo Terto da Silva, o “Naldo”, responsáveis pela segurança dos prédios usados para armazenar drogas; Ademário Goes dos Santos, o “Ligeirinho”, subordinado a Chorão e Naldo; Paulo Rogério Dias, que segundo a investigação distribui as drogas que saem da Favela do Moinho.

Defesas

A reportagem busca contato com a defesa dos citados. O espaço está aberto para manifestações.



Por: Estadão Conteúdo

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