Investigação da polícia de SP aponta relação entre postos de gasolina e bebidas com metanol

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A Polícia Civil de São Paulo localizou nesta sexta-feira, 10, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, uma fábrica clandestina que distribuía bebidas adulteradas a outros estabelecimentos comerciais, que estão ligadas a duas mortes de intoxicação por metanol no Brasil. A investigação aponta que a quadrilha comprava etanol misturado com metanol em postos de combustíveis.

O superintendente da Polícia Técnico-Científica de São Paulo, Claudinei Salomão, disse que a quantidade de metanol encontrada nas bebidas é “absurda”. De 300 garrafas, cerca de 50% apresentavam proporção de 10% a 45% de metanol.

“É uma quantidade absurda de metanol. Muito grande. Existem recipientes que só têm metanol. Não tem álcool etílico”, disse. “É uma crise aguda, muitos casos de repente. Antes nós tínhamos casos esporádicos relacionados a pessoas em situação de rua”, complementou.

Já o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que os casos de contaminação por venda de bebidas alcoólicas contaminadas com metanol podem estar relacionados à compra de etanol adulterado no mesmo posto de gasolina ou na mesma rede. “Como a concentração foi muito alta, 36%, passando de 40% (de metanol nas bebidas), é um número grande. É uma suspeita, ainda não dá cravar, que eles adquiriram no mesmo posto de gasolina. Se isso for confirmado, é algo muito ruim, mas que nos leva a um caminho, um processo para tranquilizar a população. Essa concentração é muito alta. Pode ser que tenham adquirido no mesmo posto ou na mesma rede”, disse o secretário.

O secretário voltou a descartar a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC). “Até aqui não tem nenhum indício (participação do PCC). O que aconteceu, que nós estamos concluindo, é que criminosos foram prejudicados por uma organização criminosa”, disse.

Segundo Derrite, ninguém que foi preso até o momento tem ligação com a facção. “Não tem nenhum indício até aqui de que eles estejam, de fato, juntos nesse processo, nessa cadeia ilícita. Nenhum criminoso preso ou investigado é faccionado, eles não têm a mesma centralização de advogados, isso que é característico da própria organização criminosa.”

A Polícia Federal também investiga se o metanol usado para adulterar bebidas tenha origem em caminhões e tanques abandonados pelo crime organizado após operações das autoridades.

A ação desta sexta-feira, realizada por meio da Delegacia de Investigações sobre Crimes Contra o Meio Ambiente e do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania, cumpre mandados de busca e apreensão em estabelecimentos ligados à venda de bebidas alcoólicas contaminadas com substância.

Os agentes chegaram até a fábrica após investigarem a morte de duas vítimas. Uma delas é Ricardo Lopes, de 54 anos, que passou mal em 12 de setembro e morreu quatro dias depois. “O bar onde ele consumiu a bebida foi vistoriado e as equipes apreenderam nove garrafas”, disse a Secretaria da Segurança Pública.

A outra vítima é Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46. Ambos consumiram bebida alcoólica no Bar Torres, na Mooca, zona leste de São Paulo, já interditado pela Vigilância Sanitária.

O Bar Torres afirmou que colabora com as autoridades e que “todas as bebidas são originais, adquiridas apenas de fornecedores oficiais e com nota fiscal, garantindo procedência e confiança”.

Ainda de acordo com a pasta, peritos detectaram a presença de metanol em oito desses produtos, com percentuais que variavam de 14,6% a 45,1%. Não existe dose mínima de consumo da substância, que pode levar à cegueira e à morte.

O proprietário do bar admitiu em depoimento que comprou as garrafas de uma distribuidora ilegal, que fabricava bebidas usando etanol de postos de combustível misturado com metanol, um composto altamente tóxico e proibido para consumo humano, segundo a polícia.

A polícia desconfia que o falsificador de bebidas foi adquirir etanol e acabou comprando metanol.

“O crime organizado, lucrando exponencialmente, tanto com a a lavagem de dinheiro, usando CNPJ dos postos de combustíveis, e lucrando com a adulteração do etanol com o metanol. Na verdade essa organização criminosa prejudicou esses criminosos que fazem a adulteração da bebida”.

Outros endereços estão sendo vistoriados

Além de São Bernardo do Campo, endereços em São Caetano do Sul e na capital paulista foram vistoriados. “Ao todo, oito suspeitos foram encaminhados à delegacia para prestar esclarecimentos”, segundo a SSP.

Na operação, a polícia apreendeu garrafas, bebidas, celulares e outros itens para análise. As investigações continuam para identificar os envolvidos e a procedência dos produtos.

Balanço de casos de intoxicação no Brasil

Conforme atualização do Ministério da Saúde feita na quarta-feira, 8, número de intoxicados por metanol no País está em 24. São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul são os Estados com casos confirmados.

Outras 235 notificações estão em investigação, a maioria concentrada em São Paulo.



Por: Estadão Conteúdo

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