Entenda como a deslegitimação do diagnóstico impacta os autistas



O crescimento dos diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil tem provocado discussões que ultrapassam o campo científico e médico. Se, por um lado, a expansão do acesso a serviços especializados e a divulgação de informações qualificadas aumentaram a visibilidade da condição; por outro, intensificaram-se as falas que questionam sua legitimidade.

Dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo, o que representa cerca de 1,2% da população. Entre crianças de 5 a 9 anos, a prevalência chega a 2,6%, e entre meninos é maior do que entre meninas, 1,5% contra 0,9%.

Causas do aumento de diagnósticos de TEA

A neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto, explica que o aumento dos diagnósticos não significa que o autismo “surgiu” de repente, mas, sim, que hoje há mais informações, acesso a serviços e profissionais capacitados para identificar o transtorno. “O aumento de diagnósticos reflete mais acesso, visibilidade e conscientização. Mas, atenção: não significa que de repente o autismo virou moda ou que todos são autistas”, ressalta.

Ela lembra que a ampliação dos critérios também permitiu reconhecer quadros que necessitam de diferentes suportes, que antes ficavam invisíveis. “Muitas famílias buscam avaliação justamente porque têm hoje mais conhecimento sobre o espectro”, afirma.

Perigos da deslegitimação do diagnóstico

Apesar do aumento das facilidades no diagnóstico do TEA, cresce também a circulação de discursos que o deslegitimam. Frases como “hoje tudo é autismo” ou “antigamente era só timidez” se tornaram comuns, alimentando preconceitos e reforçando o capacitismo.

“Deslegitimar o diagnóstico com frases como ‘agora todo mundo é autista’ ou ‘é só jeito de ser’ é perigoso, porque isso reduz as necessidades reais das pessoas no espectro e reforça a ideia de que elas precisam esconder suas dores”, alerta a neuropsicóloga.

Desacreditar o diagnóstico de autismo é uma forma de capacitismo (Imagem: vetre | Shutterstock)

Deslegitimação impacta pessoas autistas

O impacto da deslegitimação do diagnóstico vai além das palavras. Ao desacreditar, escolas e empregadores podem deixar de fazer adaptações necessárias, famílias enfrentam barreiras para garantir direitos e os próprios autistas sentem que sua condição não é levada a sério.

“O diagnóstico não é apenas identificar traços; ele considera prejuízos no funcionamento social, acadêmico e ocupacional, e é fruto de avaliação multidisciplinar. Tratar como moda ou exagero é uma forma de capacitismo que isola ainda mais o autista”, ressalta Bárbara Calmeto.

Combatendo a desinformação

Um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou um aumento de 15.000% em conteúdos sobre falsas causas e supostas curas para o transtorno do espectro autista, entre 2019 e 2024, em grupos de aplicativos de mensagens. Esse tipo de informação contribui para reforçar a ideia de que o diagnóstico seria um “rótulo” e fragiliza o reconhecimento social da condição.

Em contrapartida, para especialistas, é necessária mais informação qualificada e em políticas públicas que garantam diagnósticos de qualidade e suporte adequado em todas as fases da vida. “Precisamos de informação confiável. O autismo é plural. Não é rótulo, não é moda, não é exagero. É uma condição neurológica que precisa ser respeitada e compreendida, com suporte adequado em cada fase da vida”, conclui Bárbara Calmeto.

Por Priscila Correia





Fonte: Portal EdiCase

Redação EdiCase

Recent Posts

Barroso elogia Galípolo, defende autonomia do BC e diz que juro alto é ‘consequência’

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, aproveitou um evento realizado pelo…

2 minutos ago

Não há dúvida do envolvimento do PCC no assassinato de Ruy Fontes, diz Derrite

O secretário da segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse nesta quinta-feira, 18, que…

10 minutos ago

Brasil registra recorde de 1,6 bilhão de aves comerciais em 2024, mostra IBGE

Os produtores brasileiros reuniam um recorde de 1,6 bilhão de galináceos no ano de 2024,…

11 minutos ago

Nelson Wilians, investigado em esquema do INSS, nega juramento de falar a verdade à CPMI

O advogado Nelson Wilians se recusou a prestar o termo no qual se comprometeria a…

14 minutos ago

5 filmes baseados em livros de romance e onde assisti-los

Os livros por si só já são um universo mágico, capazes de encantar e transportar…

20 minutos ago

Trump espera ‘finalizar alguma coisa’ sobre TikTok em conversa com Xi Jinping na sexta-feira

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse esperar "finalizar alguma coisa" sobre o TikTok…

27 minutos ago

This website uses cookies.