Em um dia carregado na agenda de indicadores, mas de liquidez reduzida no mercado de renda fixa, os juros futuros percorreram a segunda etapa do pregão desta terça-feira,30, com baixa na parte intermediária e longa da curva. Já os vértices mais curtos permaneceram em recuo contido em boa parte da sessão, mas caminhavam mais próximos da estabilidade rumo ao fechamento.
Encerrados os negócios, a taxa de contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 aumentou de 14,057% no ajuste de ontem para máxima intradiária de 14,075%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,374% no ajuste para 13,380%. O contrato negociado para janeiro de 2029 marcou 13,255%, de 13,27% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2031 recuou de 13,476% no ajuste precedente para 13,450%.
Sem grandes surpresas em dados de atividade e fiscais publicados, a perda de inclinação da curva pode ter vindo na esteira de sinais iniciais de distensão do mercado de trabalho, tendo como pano de fundo o tom conservador da comunicação recente do Banco Central (BC). No trecho intermediário e longo, o leilão de baixo volume de NTN-B realizado hoje pelo Tesouro Nacional contribuiu para não conferir pressão às taxas, em uma sessão em que o dólar andou de lado e os Treasuries não caminharam em direção única.
No saldo do mês, a curva de juros futuros também perdeu inclinação. Considerando níveis de fechamento, o DI para janeiro de 2027 subiu 15,5 pontos base em relação ao primeiro dia de setembro, enquanto a taxa para janeiro de 2029 avançou 5,5 pontos-base e de 2031 recuou 8 pontos-base.
Divulgada mais cedo pelo IBGE, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua se manteve em 5,6% na passagem do trimestre encerrado em julho para os três meses terminados em agosto. O dado ficou em linha com a mediana de estimativas do Projeções Broadcast, e foi avaliado por economistas como evidência de que o mercado de trabalho ainda está aquecido, mas dá indícios incipientes de perda de fôlego na margem.
Para o economista Leonardo Costa, do ASA, a queda de 0,2% da população ocupada em relação ao mês imediatamente anterior – a primeira redução desse contingente em quase dois anos – sugere que o emprego pode estar perdendo força. Na visão do Bradesco, o mercado de trabalho tem perdido tração nos últimos meses, o que reforça o cenário de desaceleração da economia à frente.
“Viemos de uma semana em que o Banco Central demonstrou postura mais hawkish, principalmente na ata do Copom e no Relatório de Política Monetária. Esse tom, combinado a dados de emprego que mostram crescimento menor da população ocupada, contribuiu para o ‘flattening’ na curva de juros”, diz André Muller, economista-chefe da AZ Quest Investimentos.
De acordo com Muller, a taxa de desemprego só não subiu no mês porque houve redução na oferta de mão de obra, com queda da taxa de participação. “Não classificaria os dados como fracos, mas começam a mostrar sinais de um mercado de trabalho desacelerando”. Os números de emprego, segundo o economista, somados às falas conservadoras do BC, contribuem para que a curva “pare de abrir”, limitando o espaço para altas expressivas nos DIs.
No campo fiscal, o Tesouro Nacional publicou nesta tarde o Relatório Mensal da Dívida (RMD) referente a agosto, e também anunciou uma revisão do Plano Anual de Financiamento. O estoque da Dívida Pública Federal (DPF) cresceu 2,59% entre julho e agosto, e fechou o mês em R$ 8,144 trilhões. A única alteração no PAF foi no estoque da DPF, da faixa de R$ 8,1 trilhões a R$ 8,5 trilhões, definida anteriormente, para intervalo de R$ 8,50 trilhões a R$ 8,80 trilhões.
Por: Estadão Conteúdo