O real perdeu fôlego ao longo da tarde desta quinta-feira, 16, em meio ao aumento da aversão ao risco no exterior e à virada do petróleo para o campo negativo, mas conseguiu emendar o segundo pregão seguido de ganhos frente ao dólar nesta quinta. Após tocar a mínima de R$ 5,4218 pela manhã, o dólar à vista fechou a R$ 5,4431, com queda de 0,35%. Na máxima, atingiu R$ 5,4588. A moeda recua 1,10% na semana, mas avança 2,26% em outubro
Apesar da cautela com o quadro doméstico, marcada pelas dúvidas sobre a elaboração do orçamento de 2026, o real segue apoiado pelo enfraquecimento global do dólar. Contribuem a perspectiva de desaceleração da economia dos EUA e novos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Também houve alívio nas tensões comerciais após a confirmação do encontro, no fim do mês, entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Xi Jinping (China), na Coreia do Sul.
Para o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, as declarações recentes de dirigentes do Fed e o “shutdown” (paralisação parcial) do governo norte-americano reforçam o risco de piora do mercado de trabalho. “Aumenta a probabilidade de redução dos juros nos EUA para a faixa entre 3,25% e 3,50% até março de 2026, com três quedas seguidas de 25 pontos”, afirma Velho.
Pela manhã, o diretor do Fed Stephen Miran, indicado por Donald Trump, disse que o banco central americano deveria cortar a taxa em 50 pontos-base no próximo dia 29, mas que o ajuste provável é de 25 pontos-base. Já o diretor Christopher Waller voltou a apoiar nova redução de 25 pontos-base, embora tenha pregado cautela na transição para o nível neutro.
Termômetro do comportamento do dólar diante de uma cesta de seis moedas fortes, o Dollar Index (DXY) operou em queda firme e recuava mais de 0,45% no fim da tarde, na casa dos 98,430 pontos, após mínima de 98,298 pontos. As cotações do petróleo cederam mais de 1%, para o menor valor desde maio, após Trump relatar progressos nas conversas com o presidente russo, Vladimir Putin, para pôr fim à guerra na Ucrânia.
A maioria das divisas de emergentes e de exportadores de commodities subiu ante o dólar, mas perdeu parte do fôlego à tarde com o salto de 20% do VIX, termômetro do medo, e com o tombo das bolsas em Nova York, em meio a preocupações com o setor financeiro.
Velho acredita que o dólar seguirá perdendo força global, o que tende a manter a taxa de câmbio mais perto de R$ 5,40. Além do ambiente externo, o real é sustentado pelo maior diferencial de juros e pela perspectiva de taxa real acima de 7% ao longo de 2026.
Analistas dizem que o dólar poderia cair mais, não fossem as dúvidas sobre o controle das contas públicas. O mercado espera a estratégia do governo Lula para compensar a perda de receita com a derrubada da Medida Provisória alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e, assim, cumprir a meta fiscal de 2026.
O economista-chefe da Equador ressalta que o governo precisa “achar” algo entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões para compensar a queda da MP. “Caso o governo não apresente uma proposta crível e compensatória da perda fiscal, o dólar pode voltar a testar, mesmo que de forma pontual, níveis superiores a R$ 5,50”, afirma.
Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que ainda espera um chamado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apresentar alternativas que cubram a perda de receita com a queda da MP. À tarde, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse que o governo pode optar por um projeto de lei com trechos “incontroversos” da MP derrubada. A decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de liberar o governo da obrigação de contingenciar gastos para atingir o centro da meta fiscal, e não o piso, gerou algum desconforto, embora já fosse esperada.
Por: Estadão Conteúdo