Dólar termina dia estável, mas recua 1,83% em setembro

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Por Antonio Perez. Colaborou Gustavo Nicoletta – 30/09/2025 17:57

O dólar rondou a estabilidade ao longo da tarde e encerrou a sessão desta terça-feira, 30, cotado a R$ 5,3230 (+0,01%), com variação de menos de três centavos entre a mínima (R$ 5,3049) e a máxima (R$ 5,3336). Apesar de fatores técnicos típicos de fim de mês, como a tradicional disputa pela formação da taxa ptax e a rolagem de contratos no segmento futuro, o pregão foi morno. No mês, o dólar recuou 1,83%, após cair 3,19% em agosto. No ano, as perdas são de 13,87%.

No exterior, a moeda norte-americana recuou ante pares e frente à maioria das divisas de países emergentes e exportadores de commodities, em meio à cautela com a possibilidade de paralisação do governo dos Estados Unidos, caso não haja acordo no Congresso norte-americano para aumentar o teto da dívida.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, ressalta que nem o tradicional embate de fim de mês entre “comprados” e “vendidos” na moeda americana para a definição da taxa Ptax animou os investidores – o que fez o dólar “andar de lado” ao longo do dia.

“A sensação é a de que ninguém quis se arriscar no fim do trimestre, mantendo o dólar perto do patamar de R$ 5,30, que foi eleito pela maioria como novo nível de segurança para a taxa de câmbio”, afirma Galhardo, ressaltando que o real continua bem posicionado pela perspectiva de ampliação do diferencial de juros interno e externo nos próximos meses e de entrada de fluxo estrangeiro para a bolsa doméstica.

Declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) reforçaram nesta terça a aposta de nova redução da taxa básica americana em outubro. Vice-presidente do BC americano, Philip Jefferson disse que o mercado de trabalho mostra sinais de fraqueza e pode enfrentar dificuldades se não receber ajuda. A presidente do Fed de Boston, Susan Collins, afirmou que pode ser apropriado aliviar um pouco mais a política monetária neste ano, mas ponderou que o grau de flexibilização está em aberto e dependente de indicadores.

Números do relatório Jolts surpreenderam nesta terça ao mostrar que a abertura de postos de trabalho nos EUA subiu para 7,227 milhões em agosto, acima das expectativas de analistas, que previam criação de 7,1 milhões de vagas no período. Houve revisão para cima do número de julho (de 7,181 milhões para 7,208 milhões).

Na quarta-feira, é a vez do relatório ADP, com números da criação de empregos no setor privado nos EUA em setembro. A grande expectativa é pelo relatório de emprego (payroll), na sexta-feira, 3, dado que, em seu balanço de risco, o Fed tem dado mais peso à deterioração do mercado de trabalho Há receio, contudo, de que o shutdown impeça a divulgação do número.

Para o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, a perspectiva é positiva para o real no curto prazo, com o ciclo de cortes de juros nos EUA e a postura mais cautelosa do Comitê de Política Monetária (Copom), que não dá sinais de que pode começar a reduzir a taxa Selic no fim deste ano, apesar de um conjunto de indicadores recentes sugerirem desaceleração da atividade.

“Embora a Selic esteja parada, a taxa real de juros segue aumentando, porque há a percepção cada vez maior de que os riscos inflacionários estão diminuindo. Isso acaba atraindo capital estrangeiro para o Brasil e favorece a moeda”, afirma Galhardo.

Ele pondera, contudo, que a perda de fôlego da atividade, com manutenção da política monetária em campo muito restritivo, tende a diminuir a arrecadação do governo federal, o que acende um alerta para as contas públicas. “As dúvidas sobre o cumprimento das metas do arcabouço fiscal a partir do ano que vem com a economia crescendo menos podem afetar negativamente a moeda brasileira”, diz o economista-chefe da Análise Econômica.

O Citi prevê que a recente queda nos preços das commodities intensificará o déficit em conta corrente, limitando uma apreciação adicional do real daqui para frente. No cenário projetado, o dólar deve ser cotado a R$ 5,44 no final de 2025 e a R$ 5,53 no fim de 2026.

Em relatório, o Citi destaca que a apreciação da moeda brasileira em relação ao final de 2024 é resultado principalmente de fatores globais, como a desvalorização do Dollar Index (DXY), que caiu de 108,000 pontos para 98,000 pontos. O banco aponta que o desempenho do real mantém alguma paridade com o de moedas de mercados emergentes.



Por: Estadão Conteúdo

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