Muito além do sabor e da nutrição, a culinária afro-brasileira é um legado vivo de resistência, memória e identidade. Pratos como o acarajé, vatapá, caruru e a feijoada carregam séculos de histórias da presença de povos africanos no Brasil e da construção de uma cultura alimentar única.
Para a professora Paula Daiany Gonçalves Macedo, do curso de Nutrição da Faculdade Santa Marcelina, compreender o valor da comida afro-brasileira é reconhecer seu papel como um dos pilares da cultura nacional. “Esses alimentos são registros históricos. Cada preparo, cada tempero e cada ingrediente traz consigo saberes transmitidos oralmente, afetos coletivos e formas de resistência”, explica.
Riqueza simbólica além do prato
Alimentos como o feijão, presente em diversas tradições africanas, e o azeite de dendê, trazido do mesmo continente e mantido como elemento sagrado em muitas religiões de matriz africana, simbolizam a nutrição do corpo e da memória. “A presença desses pratos no cotidiano das famílias brasileiras é uma maneira de manter viva a contribuição dos povos africanos na construção da nossa identidade cultural”, afirma a professora.
Essa cozinha, muitas vezes marginalizada ou vista apenas sob o prisma do excesso calórico, é, na verdade, um território de riqueza simbólica. O acarajé, por exemplo, é mais do que um alimento: é oferenda, é ritual, é pertencimento. “Quando valorizamos esses pratos, estamos valorizando as histórias que foram apagadas, silenciadas. É uma forma de resgatar narrativas e reconhecer a força e o conhecimento que adquirimos com eles”, pontua Paula Daiany Gonçalves Macedo.

Educação e preservação cultural
Ainda que adaptações contemporâneas sejam possíveis — como o uso moderado de gordura ou substituições por versões vegetais — o foco, segundo a professora, deve ser o respeito à tradição. “É possível adaptar sem descaracterizar. Mas antes de tudo, é necessário respeitar o que esses pratos representam: cultura, fé e resistência”, completa.
Nesse sentido, promover o consumo consciente e o ensino da culinária afro-brasileira vai além de uma questão nutricional: é um gesto educativo. É reconhecer que a comida também é um território de memória e afirmação. “Nutrir é também preservar histórias, identidades e afetos que construíram, e ainda constroem o Brasil”, conclui Daiany Gonçalves Macedo.
Por Nágila Pires
Fonte: Portal EdiCase