China usa políticas de Trump para criar nova frente com Índia e Rússia

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Por Redação, O Estado de S. Paulo – 02/09/2025 07:50

Ao receber Vladimir Putin, Narendra Modi e mais de 20 líderes da Ásia para uma cúpula de segurança, o presidente chinês, Xi Jinping, fez críticas aos EUA, pedindo mais integração econômica ao grupo e oposição à mentalidade de Guerra Fria e intimidação dos americanos.

Xi aproveitou a impopularidade das políticas comerciais caóticas dos EUA para criar uma divisão entre Washington e o restante do mundo, argumentando que a China pode servir como líder global mais estável.

Antes dos discursos, Xi, Putin e Modi, líderes das três maiores potências não alinhadas ao Ocidente – China, Rússia e Índia -, se cumprimentaram em um caloroso aperto de mãos. Em um círculo fechado, eles trocaram algumas palavras e sorriram, antes que os tradutores se juntassem ao grupo.

Para analistas, o quadro continha múltiplas mensagens. A amizade entre Xi e Putin, que já foi definida por eles como “sem limites”, pretendia transmitir um vínculo estreito entre líderes de uma ordem mundial alternativa aos EUA.

Um dos protagonistas do encontro, Modi buscou mostrar que a Índia tem outros amigos importantes, caso Donald Trump insista em impor tarifas aos indianos. Assim como o Brasil, o país recebeu uma taxa de 50% sobre seus produtos como uma punição pela compra de petróleo russo. A pressão ameaça uma pedra angular da política externa americana, de tentar afastar a Índia e da China.

Aliança

Os líderes se reuniram pelo segundo dia para a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), um grupo de segurança formado por países da Eurásia criado para combater o terrorismo islâmico na região.

Mas as imagens registradas na cidade portuária de Tianjin mostraram como a ruptura geopolítica causada por Trump deu à China e à Rússia uma plataforma para reunir uma diversidade de parceiros como Irã, Turquia, Casaquistão, Paquistão, entre outros.

“A Casa Branca deve entender que suas políticas farão com que outros países busquem alternativas para atender aos seus interesses”, disse Manoj Kewalramani, da Instituição Takshashila, de Bangalore.

Em seu discurso na cúpula, e sem citar diretamente os EUA, Xi criticou o comportamento intimidador de países e elogiou a expansão da OCX, dizendo que o grupo está construindo um novo modelo de “verdadeiro multilateralismo”. Xi pediu mais cooperação entre os membros para alavancar seus “mercados de megaescala” e impulsionar o comércio e o investimento. Ele disse que a China fornecerá 2 bilhões de yuans (US$ 280 milhões) em ajuda aos membros este ano e mais 10 bilhões em empréstimos para um consórcio bancário da OCX.

A cúpula de Tianjin é a maior do bloco desde sua formação e parte fundamental do esforço de Pequim para desafiar o domínio dos EUA ou de organizações lideradas pelo Ocidente, como a Otan.

Coalizão

Na sua vez de discursar, Putin aproveitou para impulsionar a imagem da Rússia como uma importante potência global, culpando o Ocidente pela guerra na Ucrânia e divulgando declarações historicamente revisionistas para explicar as causas do conflito.

Apesar das divisões entre os membros, as políticas imprevisíveis de Trump ajudaram a criar “uma coalizão de países com ideias semelhantes contra os EUA”, disse Claus Soong, analista do Instituto Mercator para Estudos da China, com sede em Berlim.

Ao lado do Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países, a OCX tornou-se central para a mensagem de Pequim de que “o Ocidente não é a potência dominante”, de acordo com Soong. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.



Por: Estadão Conteúdo

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