A primeira vacina contra a malária só foi aprovada em 2021, mas as pesquisas que a tornaram possível começaram décadas antes e tiveram contribuição pioneira de cientistas brasileiros. Um deles foi o imunologista Victor Nussenzweig, que morreu na última segunda-feira, 11, aos 97 anos em São Paulo.
Ele e a esposa, Ruth Nussenzweig (que morreu em 2018, aos 89 anos), desenvolveram a partir da década de 1960 estudos inovadores nos Estados Unidos sobre os parasitas Plasmodium, causadores da malária. Os protozoários infectam as fêmeas do mosquito Anopheles, que transmite a doença aos seres humanos e outros animais. A pesquisa abriu caminho para outras gerações de cientistas no desenvolvimento de vacinas contra a doença, que matou 597.000 pessoas em 2023, a maioria no continente africano, segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, foram 63 óbitos pela doença no mesmo ano, conforme dados do Ministério da Saúde.
Casal identificou proteína imunizante
Ainda nos anos 1980, o casal Nussenzweig apontou o caminho para a imunização contra a malária: descobriram que uma proteína que recobre os protozoários do gênero Plasmodium poderia ser usada para promover uma resposta imunológica à infecção. A partir daí, a circunsporozoíta (conhecida como “CS”) – proteína do parasita que ativa o sistema de defesa dos mamíferos – se tornou um componente fundamental de boa parte das vacinas testadas em humanos contra o parasita. O pontapé inicial foi de Ruth: em 1967 ela foi a primeira cientista a provar que era possível imunizar roedores contra a doença por meio da irradiação dos esporozoítos, um dos estágios de vida dos parasitas causadores da malária.
O casal trabalhou junto durante toda a vida. Se conheceram na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e na década de 1960 se transferiram para a Escola de Medicina da Universidade de Nova York (NYU). Também trabalharam em colaboração com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no desenvolvimento de uma vacina nacional contra a malária.
Atualmente, os imunizantes RTS,S e R21 são recomendados pela Organização Mundial da Saúde para crianças que vivem em áreas endêmicas de malária, com prioridade para locais onde há transmissão moderada e alta. As vacinas aprovadas até o momento agem contra a espécie Plasmodium falciparum, mais prevalente no continente africano e causadora da forma mais letal da doença.
No Brasil, os casos provocados pela P. falciparum são menos comuns e a maioria é de malária vivax, em geral mais branda, e se concentram na região amazônica. A Vivaxin, vacina brasileira contra a malária desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Federal de Minas Gerais, está atualmente na etapa de testes clínicos.
Casamento na biblioteca e autoexílio
Nussenzweig nasceu em São Paulo em 1928, e se formou na Faculdade de Medicina da USP em 1953. Foi onde conheceu e namorou Ruth, escolhendo oficializar a união na biblioteca do prédio da Av. Doutor Arnaldo. “Namorávamos falando de ciência”, lembrou o cientista, depois de mais de meio século junto da esposa, em entrevista concedida à Revista Pesquisa Fapesp em 2004.
O cientista obteve o doutorado também pela FMUSP, em 1958, e foi assistente de pesquisa em parasitologia. O casal partiu então para um pós-doutorado na França, onde ele se especializou em imunologia no Instituto Pasteur. Depois, seguiram para mais um pós-doutorado, na NYU. Tentaram retornar ao Brasil em 1964, mas a Faculdade de Medicina sofria assédio dos militares após professores protestarem contra o golpe.
Nussenzweig foi imediatamente convocado a depor. O casal concordou que “não havia clima de pesquisa na faculdade” e retornou aos Estados Unidos, acolhidos pelo venezuelano-americano Baruj Benacerraf, que seria agraciado com o Nobel de Medicina e Fisiologia em 1980.
O cientista brasileiro se tornou professor titular no Departamento de Patologia da New York University School of Medicine em 1971. “Ele era contagiante em seu entusiasmo, injetando nos seus alunos e colegas uma paixão inabalável pela ciência”, lembram colegas de universidades brasileiras e americanas em nota de homenagem da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI).
Além da colaboração com a esposa na vacina contra a malária, também trabalhou com o médico Celso Bianco em uma descoberta que abriu novas fronteiras na imunologia (mostrando que linfócitos B expressam receptores para complemento C3) e se dedicou a estudar estratégias de sobrevivência do parasita causador da Doença de Chagas.
Ruth e Victor tiveram três filhos, que também se tornaram pesquisadores em diferentes áreas: André, especialista em mecanismos de reparo de cadeias de DNA, Michel, médico e professor na Universidade Rockefeller e Sonia, antropóloga que estuda práticas de profissionais de saúde.
Por: Estadão Conteúdo
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