Aluno afirma ter sofrido racismo de seguranças da PUC-Campinas


Um estudante da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), no interior de São Paulo, afirma ter sofrido racismo e perseguição por parte de seguranças da universidade, dentro do Câmpus I da instituição, na noite da última quarta-feira, 14. Gabriel Domiciano, aluno de 26 anos do quarto ano do curso de Relações Públicas, usou as redes sociais para relatar o episódio, o qual afirma tê-lo deixado “indignado”, “envergonhado” e constrangido”.

Procurada, a PUC-Campinas não havia dado retorno até a publicação da reportagem.

O jovem, que estuda no período noturno, conta que chegou na universidade por volta das 21h, já para o segundo período – ele não tinha aula no primeiro. Ao caminhar pelo bolsão do estacionamento, ele notou que estava sendo seguido por um segurança a pé e também por veículo da ronda da instituição. Apesar de ficar incomodado, ele tentou relevar e foi ao banheiro. Na saída do toalete, dois seguranças o abordaram.

“Eles me perguntaram o que eu estava fazendo ali e se eu era estudante da PUC. Eu estudo aqui há quatro anos. Mil coisas passaram pela minha cabeça. Mas, eu falei: ‘Se vocês querem saber se eu sou aluno, vamos até a sala e vamos perguntar para o meu professor se eu estudo aqui ou não’, disse Gabriel.

Para a surpresa do estudante, os seguranças – que não foram identificados – não recuaram e acompanharam o jovem até a sala de aula. Domiciano disse que passou a ficar ainda mais nervoso e ansioso pela insistência dos agentes.

“Abri a porta, chamei meu professor e falei: ‘Professor, tem duas pessoas aqui querendo saber se eu sou aluno da faculdade’. Foi quando o meu professor respondeu que ‘sim’, que eu era aluno”.

Conforme Domiciano, os seguranças disseram que a abordagem fazia parte de um procedimento protocolar de ação dos agentes. O estudante reagiu: “Como eu estava de frente pra sala inteira, perguntei pra todo mundo: ‘alguém aqui já passou por isso?’, ‘Alguém aqui já foi perguntado se é aluno da faculdade por esses guardas?’. Ninguém havia sido perguntado”.

Segundo Domiciano, em uma segunda tentativa de justificar a abordagem, os seguranças disseram que o aluno foi questionado porque estaria andando pela área de estacionamento. “Como é que as pessoas chegam até o prédio da faculdade? Voando?”, indagou o jovem na postagem.

O jovem também afirma que procurou a chefia dos seguranças para relatar o ocorrido, mas diz que não foi acolhido e que ouviu a mesma resposta sobre o procedimento padrão de abordagem.

“Como eu falei para vocês, (eu estudo) há quatro anos e eu nunca vi isso acontecer com outra pessoa que não fosse preta. E (o chefe da guarda) ainda me falou que a faculdade foi assaltada esses tempos atrás e que os guardas estão tomando cuidado. Então, eu me enquadro em algum espectro, algum estereótipo de assaltante de faculdade? O que que fez eles pensarem sobre isso?”, desabafa.

“Eu nunca me senti tão envergonhado e tão constrangido na minha vida”, disse Domiciano. “Foi uma das noites mais difíceis que já passei. É um incômodo muito grande no coração.”

O estudante relatou também que procurou a PUC-Campinas para identificar os seguranças e fazer o boletim de ocorrência. Contudo, ele alega que a universidade não o ajudou. Ainda segundo Domiciano, a universidade estaria apagando os comentários de outros estudantes nas redes sociais que estão indo às redes pedir por respostas e manifestações da instituição.

“Esse vídeo que eu estou fazendo para vocês é uma denúncia e é um apelo para que este comunicado chegue até as autoridades, no caso da universidade, responsáveis por treinamentos, por cursos de letramento, a formarem melhor os seus funcionários”, afirma.

Ao Estadão, ele disse que registrou boletim de ocorrência sobre o caso de forma online e que a PUC-Campinas será acionada judicialmente na esfera civil. “Esse constrangimento que eu passei, eles podem ter certeza, que eu vou fazer o que for necessário para ser feito, para que eu me sinta justiçado.”



Por: Estadão Conteúdo

Estadão

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