O diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, disse nesta quinta-feira, 16, que a autarquia usou o termo “interrupção” no ciclo de alta de juros na reunião de julho porque havia muitas incertezas, inclusive globais. Segundo Nilton, o BC queria ter tempo e capacidade para analisar se o nível da taxa de juros foi suficientemente restritivo para trazer a inflação de volta à meta.
“Acreditamos que estamos mais apertados do que em ciclos anteriores, como mencionado antes, e queremos permanecer assim para que possamos realmente reunir os dados e ver os efeitos defasados na economia. Essa é a fase em que estamos agora”, disse ele.
O diretor ressalta ainda que o Comitê de Política Monetária (Copom) acredita que deve ficar com o termo “período bastante prolongado” até estar convencido de que todos os dados estão convergindo para onde deveriam estar.
“Não podemos e não vamos correr o risco de reagir ao ruído. Portanto, precisamos de mais tempo para reunir dados e ver para onde estão indo”, disse Nilton, enfatizando que o BC não olha um dado isolado, e sim um conjunto deles.
Segundo Nilton, o boletim Focus costumava ser melhor para prever a inflação, mas não tem sido o caso nos últimos 15 meses.
O diretor também ressaltou que, em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um artigo sobre economias que têm expectativas inflacionárias voltadas para o futuro, caso dos EUA, e economias onde essas expectativas inflacionárias são voltadas para o passado, caso do Brasil. Por conta deste estudo, Nilton considera que o BC precisa ter firmeza e serenidade.
A firmeza ocorreu no momento e na maneira com que o BC aumentou a Selic para o nível de 15% ao ano, segundo Nilton. “Agora precisamos de serenidade. Porque em momentos de inflexão na atividade ou redução do crescimento econômico, você começa a ver alguns sinais mistos sobre a atividade”, disse.
Incertezas e tempo para eventual corte de juros
O diretor de Política Monetária do Banco Central disse que está feliz em não ter que saber exatamente quando o Copom começará a cortar os juros. “Eu simplesmente não sei”, enfatizou. “Temos um plano, com certeza, mas o nível de incerteza é tão alto que eu não ousaria adivinhar”, afirmou.
Segundo Nilton, o BC terá que esperar por mais tempo para garantir uma convergência das expectativas de inflação. “Claro, se as coisas se desenrolarem mais rápido do que esperávamos, reagiremos. Da mesma forma, se percebemos que as coisas não estão convergindo – e, na verdade, podem até divergir -, também vamos reagir”, disse.
Em relação ao câmbio, o diretor do BC enfatizou que o dólar está praticamente no mesmo nível de 15 meses atrás. “É praticamente devolver tudo o que o real perdeu na segunda metade do ano passado.”
Crescimento potencial
O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou que a autarquia não deseja parar o crescimento econômico do Brasil, e sim colocá-lo dentro do potencial, “o que é muito diferente”.
Nilton enfatizou que, idealmente, o “nirvana” de um banqueiro central seria ter a capacidade de colocar o crescimento econômico dentro de seu potencial. “Sabemos que é uma tarefa difícil, com muitas variáveis se movendo ao mesmo tempo, mas esse é o objetivo final”, afirmou.
Segundo o diretor, os dados macroeconômicos até agora estão vindo de acordo com a expectativa do BC.
O diretor fez palestra nesta quinta-feira, no evento “Global Macro Sessions”, organizado pelo UBS BB, em Washington, nos Estados Unidos, às margens das reuniões anuais do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e do grupo das 20 maiores economias do globo (G20).
Por: Estadão Conteúdo