Falta pouco menos de um mês para o início da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) e não é apenas a nível governamental que os preparativos estão acelerados e as expectativas, borbulhando. Gestoras voltadas para investimentos sustentáveis já têm se organizado para estarem presentes na arena ampliada da COP, seja em Belém ou nas programações vinculadas ao evento principal. A avaliação é que o espaço será próspero para conversas, negócios e educacional sobre o potencial de teses climáticas.
A Lightrock, que administra cerca de US$ 5,5 bilhões em ativos globalmente, estará presente na COP30 e vê o momento como interessante do ponto de vista comercial. “Ao longo do ano, participamos dos principais fóruns globais e locais sobre clima e temos observado um interesse crescente pelo Brasil. O fato de o país sediar a COP30 o colocou no centro das discussões sobre a transição climática e nos deu a oportunidade de apresentar, de forma mais estruturada, as vantagens competitivas que o País oferece, muitas delas ainda pouco conhecidas por investidores e empreendedores estrangeiros”, afirma Tatiana Sasson, responsável pela área de impacto da Lightrock na América Latina.
Para a executiva, a dimensão do desafio da transição para uma economia de baixo carbono, com a necessidade de volumes significativos de capital tem ficado cada vez mais em evidência e é um ponto no qual a gestora pode contribuir, “para canalizar parte desse capital para soluções e empreendedores que estão acelerando essa transição”. “O ambiente em torno da COP30 tem ampliado esse diálogo e criado pontes entre capital internacional e oportunidades reais de investimento no Brasil, algo que enxergamos como um legado importante do evento”, destaca.
A X8 Investimentos, que está indo para um quarto fundo e 100% dedicado para empresas de impacto ligada à chamada “economia azul”, também está animada para Belém. A gestora vai participar de alguns eventos, entre eles uma conversa educacional sobre a tese na Casa Vozes dos Oceanos, de seus sócios Pierre Schurmann e David Schurmann. “Há pouca gente olhando para a economia azul, então todos os gestores e players têm interesse em se conectar, se ajudar. A ideia para a COP é networking, além de conversar com investidores, pois fundraising é um processo constante, e conhecer novas oportunidades”, afirma Carlos Miranda, sócio da X8 Investimentos.
E a oportunidade de conexão não se restringe às duas semanas em Belém. A GEF Capital, que a princípio não vai para a COP30, tem acompanhado a agenda de 2025 e acredita que eventos como o PRI in Person, da iniciativa PRI, e o Global Investors’ Symposium, do Milken Institute, também podem ser proveitosos. “Esses eventos são mais direcionados para o mercado privado”, explica Amanda El Ghossain, parte do time de investimento e captação (associate) da GEF Capital, acrescentando que a gestora tem se esforçado em participar desses momentos para oferecer conhecimento sobre investimentos climáticos no mercado local.
O fundo mais recente da GEF captou US$ 200 milhões e quase 70% do capital foi investido. Além disso, a gestora foi selecionada pelo Ministério da Fazendo como um dos projetos que farão parte da nova estratégia nacional de engajamento com o Fundo Verde do Clima. Conforme o anúncio, o fundo da GEF priorizará setores como energia, saneamento, mobilidade e alimentos & agricultura. “O Brasil pode ser protagonista dessa agenda”, destaca El Ghossain.
Amadurecimento de oportunidades
O ano todo foi uma jornada de preparação e amadurecimento, avalia Sasson, da Lightrock, que observa as oportunidades de investimento climático cada vez mais “dentro do dinheiro”, ou seja, financeiramente viáveis sem depender exclusivamente de subsídios ou incentivos. “Nosso foco está em negócios que conciliam a entrega de retornos em linha com o mercado e relevante impacto ambiental ou social. Não investimos em iniciativas que gerem apenas benefícios ambientais sem retorno financeiro, nem o contrário. Nos últimos anos, temos visto uma evolução importante: setores que antes pareciam menos investíveis agora apresentam modelos de negócio escaláveis”, diz a executiva, citando ganho de tração em temas como economia circular, bioinsumos e soluções de descarbonização industrial.
Lupa no financiamento climático
Para a COP30, a Lightrock está especialmente atenta às discussões sobre os mecanismos de financiamento climático e como eles podem ser expandidos para mobilizar o capital necessário à transição.
“O desafio não é apenas de volume, mas também de estrutura, criar instrumentos que permitam que o capital chegue de forma eficiente a soluções que já demonstram impacto e viabilidade econômica”, diz Sasson. “Avanços nesse debate seriam fundamentais para acelerar o ritmo de transformação que buscamos apoiar por meio dos nossos investimentos”, acrescenta.
Por: Estadão Conteúdo