A poucas semanas do início da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), Belém já vive dias fora do comum com o Círio de Nazaré. A festividade religiosa em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré é realizada ao longo de duas semanas e deve atrair mais de 2 milhões de pessoas para a procissão deste domingo, 12. Segundo o governo do Pará, a experiência de Belém com o evento religioso “contribui de modo significativo para o planejamento da infraestrutura e logística da COP-30”.
A coincidência com o evento levou a Pré-COP para Brasília (DF), mas ainda assim o festejo tradicional deve servir como termômetro para testar a organização e a logística da cidade. A estrutura de receptivo da capital recebeu reforço durante esta temporada em que se espera mais de 70 mil viajantes. Segundo a NOA Airports, concessionária do Aeroporto Internacional de Belém, serão 461 voos comerciais entre embarques, desembarques e conexões no período de 9 a 13 de outubro, 10% a mais do que no mesmo período do ano passado, quando foram registrados 63.596 passageiros.
A rede hoteleira de Belém também está maior e ganhou mais de 4 mil leitos no intervalo de um ano. O aumento de vagas é devido à inauguração de oito novos hotéis, cuja construção foi incentivada pelos investimentos da COP-30 e o fomento ao turismo regional. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Pará (ABIH-PA) aponta que a cidade tem atualmente 24 mil leitos disponíveis, incluindo empreendimentos de alto padrão. Há dois anos, quando foi realizada a Cúpula da Amazônia, a capacidade era de 18 mil leitos.
“O mercado resolveu não arriscar”
“O Círio vai ser um teste para os novos hotéis, que vão começar a funcionar. É uma experiência importante para averiguar os serviços e fazer as correções necessárias”, diz Tony Santiago, presidente da ABIH, que garante que o aumento da oferta já reflete nos valores cobrados. “O mercado resolveu não arriscar, principalmente porque são de hotéis de cadeias internacionais. Os preços estão dentro do padrão da alta temporada.”
Para a realização da COP30, Belém recebeu mais de R$ 4,5 bilhões em investimentos para a construção e melhoria da infraestrutura urbana da cidade, incluindo novas vias, espaços de lazer, obras de macrodrenagem e portos. De acordo com o governo, a maioria das obras planejadas já foram entregues ou serão inauguradas até o final de outubro e poderão ser usufruídas pelos visitantes do Círio.
Entre os projetos recém-inaugurados estão o Porto Futuro II, a Nova Doca e o Complexo do Ver-o-Peso. Já porto de Outeiro e a ponte que liga a ilha ao continente, que vão permitir permitir a mobilidade dos participantes até a área do Parque da Cidade, estão com entrega prevista para o final do mês.
Segurança
O plano de segurança para a cúpula do clima está em ajustes finais e envolve uma ação integrada entre órgãos federais, estaduais e municipais aos moldes de outros grandes eventos internacionais sediados no Brasil, como a Copa do Mundo-2014 e o encontro do BRICS neste ano. O trabalho terá foco na segurança das autoridades e dos eventos, na proteção das infraestruturas críticas e na segurança cibernética. Durante o Círio, 12 mil agentes de segurança de forças federais, estaduais e municipais estão envolvidos.
“O Círio de Nazaré é um evento de grandes proporções que já faz parte do calendário e da logística de Belém. Ele serve como teste para a COP30, especialmente em pontos como operação dos aeroportos e gestão do tráfego. São experiências práticas que nos permitem calibrar e aperfeiçoar os planos para a COP30. As forças de segurança já estão realizando testes durante o Círio, visualizando a operação da COP, o que é uma oportunidade singular para ajustes finais”, afirmou ao Estadão o secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia.
O que diz o governo do Pará
Segundo o governo paraense, a experiência da capital com o evento religioso contribui para o planejamento da infraestrutura e logística da COP-30. Veja abaixo a íntegra da nota:
“A experiência de Belém com o Círio de Nazaré, que acontece há 232 anos, contribui de modo significativo para o planejamento da infraestrutura e logística da COP30. Atualmente, o Círio de Nazaré mobiliza uma complexa estrutura de gestão pública que envolve segurança, saúde, mobilidade urbana, serviços públicos e transporte aéreo, exigindo articulação entre diferentes esferas de governo e instituições. A cidade recebe um alto fluxo de visitantes para o Círio, com aumento expressivo no número de voos e na ocupação da rede hoteleira. Em 2024, o aeroporto de Belém recebeu mais de 60 mil passageiros no período do Círio. Para 2025, a expectativa é que mais de 70 mil passageiros desembarquem na capital paraense para o evento religioso, número bem maior que os 50 mil participantes esperados para a COP 30.
Além disso, são ativados sistemas integrados de segurança e atendimento ao público, incluindo apoio médico, pontos de informação e organização de ambulantes. Contando todas as procissões, são mais de 2 milhões de romeiros que circulas pelas ruas da cidade. Toda essa operação serve como um mostra real das capacidades logísticas e operacionais de Belém, com aprendizados diretamente aplicáveis à realização da COP30.
Sabemos, contudo, que o público dos dois eventos é muito diferente e, portanto, com necessidades diferentes. Em agosto, a ONU aprovou os planos de segurança, saúde e mobilidade apresentados pelos governos federal, estadual e municipal para a COP30 e o Governo do Pará prepara Belém há mais de dois anos para ser sede da conferência, desenvolvendo soluções de hospedagem para os diferentes públicos que participam da conferência e também preparando a infraestrutura da cidade, sempre com a pré-condição de que os investimentos sirvam para a população. O Governo do Pará trabalhou na execução de mais de 30 projetos nos eixos de turismo, desenvolvimento urbano, mobilidade e macrodrenagem com saneamento, todas dentro do cronograma previsto, gerando mais de cinco mil empregos diretos e indiretos.
A COP30 já transformou a vida da população, com a entrega de diversas obras. O Parque da Cidade, por exemplo, onde serão realizados os encontros da COP, foi entregue em junho para uso da população e para colônia de férias públicas para 10 mil crianças, adolescentes e idosos até agosto. Em menos de dois meses de funcionamento, o parque recebeu mais de 670 mil visitantes, já comprovando a importância deste legado para a cidade. O espaço está fechado desde o dia 18 de agosto, quando foi entregue ao governo federal e à ONU, para a montagem das estruturas modulares provisórias dos pavilhões de negociação e plenárias da Blue e da Green Zone. O Parque ocupa uma área de 500 mil m² de um antigo aeroporto e ganhou uma grande área verde, com mais de 2.500 árvores.
No início de outubro foi entregue o Porto Futuro, espaço às margens do Rio Guamá, onde cinco galpões históricos cedidos pela Companhia Docas do Pará (CDP) ao governo do Estado foram recuperados. Ali, nasceu um novo ponto turístico da cidade, com equipamentos de ponta e únicos na região norte do país: o Museu das Amazônias, a Caixa Cultural, o Armazém da Gastronomia e o Parque de Bioeconomia, que é o maior polo de bioeconomia da América Latina e o único parque tecnológico do mundo a usar a bioeconomia florestal, integrando ciência, tecnologia e saberes tradicionais. Dois parques lineares, a Nova Doca (entregue) e a Nova Tamandaré (em fase de finalização) mudam a paisagem da cidade e a representam novas oportunidades de lazer, esporte e encontro para a população.
As obras estruturantes para a COP30 se espalharam pela capital, beneficiando moradores de toda a cidade e também da região metropolitana, com quatro viadutos novos, pavimentação de vias e obras de macrodrenagem e saneamento em 13 canais, sendo 11 em áreas periféricas. Muitos destes projetos também já foram entregues pelo governo para a população, como os canais da Timbó, Vileta, José Leal Martins, Cipriano Santos e Gentil, além de três viadutos e inúmeras vias pavimentadas. Com 400 anos, o famoso mercado de Ver-o-Peso terá agora saneamento.
Além disso, o governo qualificou, gratuitamente, mais de 25 mil pessoas no programa Capacita COP30. Essa política pública consolidou-se como referência em qualificação profissional, ampliando oportunidades, valorizando mão de obra local e fortalecendo setores estratégicos como turismo, gastronomia, infraestrutura e segurança.”
Por: Estadão Conteúdo