O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta quarta-feira, dia 1º, que o governo Luiz Inácio Lula da Silva está empenhado em aproveitar a chance de reunião de trabalho com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sem cair em provocação ou confrontação “estéril” e mantendo uma separação entre assuntos políticos e comerciais.
“A defesa dos interesses econômicos e comerciais do Brasil é uma causa que diz respeito a todos os brasileiros. Essa defesa seguirá sendo firme, mas serena, baseada em dados concretos e fidedignos, sem provocações ou confrontações estéreis, cientes todos que estamos da importância de buscar soluções mutuamente benéficas e de preservar as excelentes e proveitosas relações que Brasil e Estados Unidos mantém há mais de dois séculos”, afirmou o ministro.
Vieira afirmou que um entendimento entre os presidentes deve ser alcançado por meio de “conversa séria e consequente” baseada em dados concretos e na realidade dos fatos. Ele disse ser necessário sensibilizar autoridades do governo Trump sobre a gravidade da situação e prejuízos para os dois lados.
O ministro pregou pragmatismo como a postura a ser adotada por Lula e defendeu a solução de diferenças por meio da conversa. O chanceler participa de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, na Câmara dos Deputados.
“Na relação com os Estados Unidos, seguiremos insistindo na necessidade de separarmos questões comerciais das questões políticas. Esse é o único caminho possível para que a situação presente possa encontrar solução satisfatória”, disse.
Segundo o chanceler, Lula recebeu de maneira “muito positiva as referências elogiosas feitas de improviso” pelo presidente dos Estados Unidos porque “abriram uma perspectiva de diálogo”.
“Consideramos muito positivo que o presidente Lula e o presidente Trump tenham podido conversar ainda que brevemente, como foram também relevantes as referências elogiosas que o presidente Donald Trump dirigiu ao presidente Lula”, disse Vieira.
“Esses acontecimentos denotam uma nova disposição americana que, evidentemente, recebemos com agrado e de que buscaremos nos valer para superarmos as medidas e sanções contra o nosso País que contrastam com o histórico e a qualidade das relações que o Brasil e os Estados Unidos sempre mantiveram.”
Ele citou o superávit americano no comércio e negou discriminação ou ilegalidades por parte do Brasil. O ministro voltou a dizer que o tarifaço de 50% é medida punitiva sem lastro na realidade da relação comercial entre os países.
O ministro reiterou o teor do discurso do presidente Lula nas Nações Unidas e “o compromisso de manter o Brasil como nação independente e povo livre de qualquer tipo de tutela”.
Ele disse que “razões expressamente políticas, relacionadas a processo judicial no Supremo Tribunal Federal, não encontram cabida em uma reconciliação entre Estados soberanos independentes”. O ministro afirmou que “posturas agressivas” com o Poder Judiciário não são produtivas.
“Sem jamais abrir mão da disposição para o diálogo naquilo que não confrontar com a nossa soberania, permaneceremos atentos, atuando em diversas frentes para fazer face à presente situação”, disse o ministro.
O chancelar criticou o tratamento bilateral, em vez de multilateral, de questões comerciais e de segurança e afirmou que a recente guerra tarifária dos EUA retrocede o mundo ao estágio anterior a 1947.
“Assistimos em todas as regiões do mundo à utilização de tarifas como meio de sancionar, intimidar e pressionar países a alinhamentos de política externa, bem como meio de interferir na economia nacional e subjugar instituições domésticas, em flagrante violação de soberania”, disse Vieira.
O ministro disse que o governo se reserva ainda ao direito de tomar medidas na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde consultas com os EUA estão congeladas, mais de um mês depois da abertura de um processo formal.
Ele também defendeu a análise de medidas previstas na lei de reciprocidade econômica, como as respostas comerciais. O avaliação está pendente na Camex (Câmara de Comércio Exterior). Segundo o chanceler, os países estão em negociações que podem se estender por até 210 dias, o que deixa em suspenso alguma medida de retaliação.
“A nova lei de reciprocidade nos auxiliará a encontrar solução mutuamente satisfatória para as questões econômico-comerciais que envolvem os Estados Unidos. E é mais do que legítimo que o Brasil tenha lançado mão da nova lei de responsabilidade contra o tratamento unilateral das sanções do governo norte-americano contra empresas brasileiras”, afirmou.
Por: Estadão Conteúdo