A contagem regressiva já começou: faltam 42 dias para os vestibulares mais concorridos do País e a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Neste momento, é importante refazer as provas de vestibulares anteriores para se habituar ao estilo de cada avaliação, além de identificar e atacar as principais fragilidades. Para cuidar da saúde mental, o cronograma tem de ser realista, com os pés no chão, e as revisões podem ser feitas com amigos, em grupo, com desafios de perguntas e respostas.
Essas são algumas orientações dos estudantes que tiveram bons desempenhos nas principais provas públicas do País. São estratégias que deram certo. Na prática, o recado é claro: os próximos 40 a 50 dias não são apenas sobre horas de estudo, mas sobre inteligência na preparação final. É hora de estudar melhor e chegar à prova com mente afiada e energia preservada.
Resolver provas anteriores foi um atalho precioso para Cecília Anderlini, de 18 anos, conquistar o 4º lugar no curso de Medicina Veterinária da USP.
“As provas antigas te auxiliam a ter uma noção do estilo de prova de cada instituição. Cada uma delas tem suas peculiaridades e elas tendem a seguir um padrão com o passar dos anos”, diz a ex-aluna do colégio Dante Alighieri no ano passado e que também passou na Unesp e UFMG.
A prática de se debruçar sobre provas passadas não significa fazer “simulados individuais”, com tempo cronometrado na escrivaninha de casa, como explica Viktor Lemos, diretor do Curso Anglo.
“O aluno pode reservar uma hora, todo dia, para resolver parte das questões”, diz o especialista. “É a forma de ele se familiarizar com a abordagem e o exame, sem ter o cansaço físico e mental de fazer cinco horas de uma prova completa”.
Lemos acrescenta que também é importante prestar atenção nas provas que já começam a acontecer – mesmo que o aluno não vá participar dela. Ele cita, como exemplo, a Fundação Vunesp, responsável pela prova da Unesp e de dezenas de outras instituições. “Não é incomum que os assuntos se repitam. Toda prova que for realizada merece ser consultada”.
Os exames antigos – e os atuais – também podem mostrar, sem rodeios, onde o aluno ainda precisa reforçar. É um método mais objetivo de identificar pontos fracos. Simulados também são ferramentas importantes para identificar lacunas de aprendizagem e orientar revisões mais estratégicas.
“Agora é hora de direcionar a energia para as fragilidades”, analisa Leonardo Paes Monteiro, gerente Sênior de Ensino Médio da Fundação Bradesco.
Essa tática funcionou com William Santos Oliveira, de 24 anos. No ano passado, exatamente nesta época do ano, ele buscava uma vaga em Medicina. Ele adotou a estratégia de fazer as provas de vestibulares anteriores num dia e corrigi-las no dia seguinte, com atenção especial às questões que ele tinha errado. “As questões que você erra são as mais importantes”. Hoje, ele é calouro na USP.
Monteiro sugere que o aluno se baseie em dados concretos. Como critério principal, ele sugere a comparação do próprio desempenho do aluno nos simulados com as notas de corte do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que seleciona candidatos para universidades públicas a partir das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Aqui entra a dica de estudo de Maria Clara Hernandes dos Santos, primeira colocada em Relações Internacionais na Unesp e na PUC Campinas – hoje, ela faz o curso na USP. “Exercitar os conteúdos nos quais o aluno tem mais dificuldade e revisar as matérias sobre as quais já se tem domínio”.
Por exemplo: se o curso é de Humanas, o diferencial provavelmente serão as questões de Exatas, considerando que a maioria dos candidatos terá bom desempenho nas provas de História, Filosofia e Geografia. “Talvez seja interessante focar os estudos em matérias da área de exatas, que podem trazer pontos a mais em comparação com seus concorrentes”, sugere.
É importante fazer um cronograma realista
Algumas universidades exigem etapas diferentes conforme o curso, como provas de habilidades específicas, além da possibilidade de entrada com base em avaliações anteriores. Para quem vai prestar o Enem, Vinicius Costa, coordenador do pré-vestibular Bernoulli, recomenda que todas as áreas apareçam no cronograma do aluno, mas com pesos diferentes.
A redação, por exemplo, precisa ter espaço fixo semanal, já que corresponde a 20% da nota final e pode garantir a tão sonhada nota 1000. Produzir, no mínimo, um texto por semana ajuda a manter o ritmo, explorar diferentes gêneros e ampliar o repertório sociocultural. “A Matemática também merece atenção especial, porque tem o maior peso no cálculo da nota e costuma ser decisiva”.
Um cronograma equilibrado não é apenas sobre quantidade de horas, mas também sobre como usá-las. A recomendação é seguir um ciclo: 50% do tempo para aprender ou revisar conteúdos, 30% para resolver questões e 20% para revisitar erros, resumos e mapas mentais.
Descansar não é perda de tempo
É no equilíbrio entre conhecimento e bem-estar que muitos estudantes podem encontrar o diferencial para conquistar a vaga. Nesta altura do campeonato é importante ser realista. É preferível ter um plano com os pés no chão, que possa ser cumprido, a tentar “abraçar o mundo” e estudar na madrugada – o que não é recomendável.
“Cada estudante sabe em quais momentos do dia tem maior rendimento: reservar esses períodos para os estudos e intercalar com atividades prazerosas, como caminhar, ler ou assistir a uma série ajuda a manter o foco sem sobrecarregar”, diz Monteiro.
Um bom cronograma deve considerar a realidade individual de cada estudante, se trabalha, estuda na escola, por exemplo. “O cronograma deve conter outros aspectos da vida do estudante para que ele possa ter a noção exata do tempo que tem para se dedicar aos estudos”, analisa João Pitoscio Filho, coordenador pedagógico do Curso Etapa.
Da mesma forma que é importante revisar o conteúdo, o cronograma também deve ser revisto. O ideal é que o estudante faça uma avaliação a cada duas ou três semanas, ajustando pontos que não deram certo. Definir metas claras também contribui para reduzir a ansiedade, pois torna o processo de preparação mais previsível.
E mesmo quem não conseguiu manter uma rotina consistente desde o início do ano ainda pode alcançar bons resultados com planejamento e disciplina nessa reta final.
Maria Clara lembra que é praticamente impossível saber todos os conteúdos. “É importante que o estudante se tranquilize quanto a isso e entenda seus limites, para que não ocorra uma sobrecarga desnecessária”
Não é só o conteúdo que pesa na balança. O lado psicológico pede (muita) atenção. Por isso, incluir momentos de lazer e pausas programadas também deve estar no planejamento. “O descanso não é perda de tempo: ele ajuda na consolidação da memória, reduz a ansiedade e garante mais energia para manter o ritmo até a prova”, orienta Costa.
Como preservar a saúde mental?
Para aliviar a pressão, Maria Clara Souza Freitas, de 19 anos, trocou a solidão do quarto pela companhia de colegas. Rodadas de perguntas e respostas transformaram a rotina em um estudo colaborativo e até divertido.
“A maneira que encontrei para tornar esse processo mais leve foi deixar os estudos mais descontraídos, como resolver questões com amigos ou revisar conteúdos teóricos por meio de perguntas e respostas em grupo. Essas práticas tornaram minha rotina mais divertida”, diz a ex-aluna do Bernoulli que conquistou o 1.º lugar na USP e na UFMG em Arquitetura.
Na reta final, vale calibrar treino e descanso
Um em cada três alunos que concluíram o ensino médio em 2023 (33%) se matriculou na educação superior, em 2024. Considerando a rede de ensino federal, a proporção é de praticamente dois em cada três (64%), acima da média nacional. Já na rede estadual, que concentra a maior parte dos estudantes, o índice foi de 27%. Entre os alunos da rede privada, a taxa chegou a 60%.
O País tem, ao todo, 2.561 instituições de educação superior, sendo 2.244 privadas – em 2010, eram 2.370 instituições no total. Em 2024, 45.772 cursos de graduação e quatro cursos sequenciais foram ofertados. Além de lidar com essa grande variedade de opções, cabe ao vestibulando a dúvida: o que fazer nos pouco mais de 40 dias até o Enem.
O Estadão solicitou um roteiro a Katia Pupo, coordenadora pedagógica do ensino médio do Colégio Miguel de Cervantes, e a André Rebelo, coordenador do ensino médio do Colégio Vital Brazil. Confira as dicas, já batendo com o calendário de provas.
PARA PRIMEIRA QUINZENA DE OUTUBRO: Antes das provas e entre uma prova e outra, é importante tirar um momento para relaxar, encontrar amigos e família – estar perto das pessoas que te confortam e torcem por você. Depois é que é a hora de revisar provas antigas e entender o funcionamento de cada exame na qual se busca a seleção. Naturalmente, isso é imprescindível ao longo de todo o ano de estudo, e uma prática importante nesse período. E a organização e cronograma de estudos devem ser ainda mais observados nesta fase; é preciso seguir com a disciplina e dedicar horas de estudo diariamente para se aprofundar nos conteúdos.
SEGUNDA QUINZENA DE OUTUBRO (HORA DA UNICAMP): Essa dica também vale para todas as primeiras fases de outras provas e para o Enem: pensar o que vai fazer primeiro, priorizar as áreas de maior interesse – aquelas que se têm mais domínio do conteúdo – e preparar-se para fazê-las primeiro nas provas. Na sequência, a ideia é procurar assistir às aulas sobre as leituras obrigatórias e tentar entender o que está além do texto: o contexto histórico e social das obras. Entrar em contato com recursos alternativos de estudo ainda pode ser uma boa opção nesse período. Em vez de fazer mais uma bateria de questões, vale assistir a um filme ou documentário.
PRIMEIRA QUINZENA DE NOVEMBRO (ENEM E UNESP): No Enem, é preciso lembrar que Matemática e Redação têm um peso significativo na nota final e esse desempenho envolverá a seleção em unidades públicas e privadas. Para os vestibulares, é importante ter conhecimento, mas também estratégia. Cada curso exige um desempenho diferente do aluno; em alguns casos, algumas disciplinas têm peso maior que outras. Tudo isso deve ser considerado. Nos estudos, também é importante intercalar áreas do conhecimento para evitar o cansaço mental e identificar erros sistemáticos em questões de um mesmo tema. E a dica de ouro dos especialistas é: fazer refeições leves na hora da prova, saia de casa com antecedência e leve um lanche para beliscar quando a cabeça parecer não responder mais na hora desse exame.
SEGUNDA QUINZENA DE NOVEMBRO (FUVEST E SEGUNDA FASE DA UNICAMP): Revisão com base nos conteúdos que têm maior incidência nos vestibulares é sempre indicado, além de estar atento às especificidades de cada prova e estudar questões de vestibulares anteriores. No caso da segunda fase, avaliar erros cometidos na primeira fase sempre funciona.
DEZEMBRO (SEGUNDA FASE DA FUVEST E DA UNESP): Antes das segundas fases, é importante separar um tempo para descansar e procurar atividades que atraiam bons pensamentos; ouvir uma música que deixe motivado; assistir a filmes e séries que tenham a ver com conquistas, resiliência, oportunidades. Revisitar as obras literárias obrigatórias ou, ao menos, assistir a aulas que tratem dos temas presentes nos livros e os contextualizem também é importante para adquirir referências teóricas diversas para um bom desenvolvimento da Redação. Por fim, as dicas finais: organizar-se e programar-se para os dias de prova, manter-se empenhado e confiante, seguro dos estudos que fez ao longo do ano.
Por: Estadão Conteúdo