Os juros futuros tocaram máximas intradiárias na segunda etapa do pregão desta quarta-feira, alinhados ao pico do dólar na sessão e a um movimento global de aversão ao rico. Por aqui, o Relatório de Política Monetária (RPM) do Banco Central (BC) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor – 15 (IPCA-15), mesmo abaixo do esperado, reforçaram a percepção de que a Selic ficará parada até o início de 2026.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 14,01% no ajuste anterior para 14,070%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,276% no ajuste a 13,365%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,250%, vindo de 13,175% no ajuste precedente. O DI para janeiro de 2031 subiu de 13,358% no ajuste da véspera para 13,410%.
Em um primeiro momento, o mercado reagiu positivamente à prévia da inflação oficial de agosto, que subiu 0,48%, vindo de deflação de 0,14% em julho. O dado ficou aquém da mediana de analistas ouvidas pelo Projeções Broadcast, de 0,51%. Houve desaceleração dos serviços, que foram novamente mencionados hoje pelo Banco Central como foco de preocupação, e dos núcleos de inflação, que também perderam tração. Mas o ânimo teve vida curta, diz Paulo Henrique Oliveira, estrategista de renda fixa da Daycoval Corretora.
Oliveira cita o tom hawkish conservado pelo Banco Central no RPM, que manteve as projeções de inflação em 3% até o primeiro trimestre de 2028, revisou sua estimativa de hiato do produto para cima, de 0,5% a 0,7%, e espera um ritmo mais lento de abertura dessa variável à frente, devido à resiliência do mercado de trabalho. Para o BC, nesse contexto, a inflação de serviços segue sob pressão.
Os DIS mantinham o ritmo de ascensão observado até o início da tarde, quando tocaram máximas intradia em toda a extensão da curva por volta das 15h20. O dólar superou o patamar de R$ 5,36 e o DXY, que compara a moeda americana a cesta de seis divisas fortes, também renovou máximas. Economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi avalia que o mercado local de DIs reagiu à deterioração do cenário externo, com uma postura mais dura dos países europeus sobre invasões aéreas da Rússia.
Já nos Estados Unidos, há uma leitura de que o ciclo de relaxamento monetário a ser promovido pelo Federal Reserve (Fed) deve ser mais suave, acrescenta Oliveira, do Daycoval, diante de declarações recentes de dirigentes do BC americano que indicam uma postura mais prudente. Nesta tarde, o diretor da instituição Michael Barr disse que a política monetária tem como direção taxas de juros mais baixas, mas que a flexibilização precisa ser feita com cautela. “Devemos focar agora nas decisões para outubro e dezembro, e depois pensamos em 2026”, afirmou.
Por aqui, mesmo o IPCA-15 abaixo do previsto não foi suficiente para reanimar apostas de cortes da Selic ainda este ano. Segundo Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, a curva de juros futuros precifica apenas 15% de chance de redução de 0,25 ponto porcentual em dezembro de 2025, ante 60% em janeiro de 2026. “O IPCA-15 de agosto foi pontualmente melhor. O que ajudou não deve continuar ajudando”, disse, em referência a deflações em itens que não devem se repetir, como ingressos de cinema e seguros de automóvel.
No campo político, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) – candidato favorito do mercado ao pleito presidencial de 2026 -, negou hoje que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha autorizado sua candidatura no ano que vem, e reafirmou que pretende disputar a reeleição ao governo paulista. Operadores não viram este fator como relevante para a piora dos DIs, cujo comportamento foi mais relacionado ao exterior.
Por: Estadão Conteúdo