Obras na orla de Balneário Camboriú incluem até muro subterrâneo

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A orla de Balneário Camboriú, destino turístico do litoral catarinense, foi transformada em um canteiro de obras em resposta às mudanças climáticas. Um dos efeitos que têm levado às intervenções é o da erosão costeira, que ocorre quando a praia perde mais sedimentos do que recebe e, com isso, a sua linha de costa começa a recuar.

Entre as obras estão a construção de um muro subterrâneo e a macrodrenagem, atualmente em execução, e o alargamento da faixa de areia por meio de um processo chamado de engordamento, que já foi finalizado. De acordo com especialistas, a erosão costeira é um dos efeitos das mudanças climáticas que devem ser bastante sentidos no Brasil, que tem uma extensa faixa litorânea.

MURO SUBTERRÂNEO. O poder municipal vem construindo um muro subterrâneo de 6 mil metros de extensão na Praia Central, a principal da cidade. A estrutura de concreto foi projetada para conter a erosão marinha e segurar a areia da praia, que já foi alargada por meio de engordamento.

Segundo a prefeitura, a obra foi dividida em trechos. O primeiro, com 1,5 km de extensão, está em obras desde o início de agosto. A estrutura vai da Rua 3920 até o molhe da Barra Sul, onde estão alguns dos arranha-céus mais altos do País. Os demais trechos ainda estão em definição.

O muro de concreto tem 2 metros de profundidade e uma laje inferior com 2 metros de largura. A base se apoia em uma estrutura de pedras do tipo rachão. A barreira está sendo construída no limite entre a faixa de areia e a orla, que vai ganhar pista de corrida, ciclofaixa, paraciclos, dog parks, academias ao ar livre, quiosques, canchas de bocha, paisagismo e ampliação da área verde – serão 2,5 mil mudas de 26 espécies.

O investimento, incluindo mão de obra e materiais, será de R$ 31 milhões. A iluminação do trecho custará outros R$ 3,7 milhões. O prazo de conclusão é de 20 meses. “O objetivo é assegurar a proteção da área e, ao mesmo tempo, possibilitar que moradores e visitantes acompanhem o andamento dos trabalhos”, afirma o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, Carlos Humberto Silva.

ENGORDA DA FAIXA DE AREIA. O alargamento da faixa de areia da Praia Central de Balneário Camboriú ocorreu em quatro fases ao longo de 2021. Entre março e julho, houve a mobilização da equipe e a montagem da tubulação. De julho a agosto, parte da tubulação foi transportada ao mar para se conectar ao navio-draga Galileo Galilei, que traz a areia de uma jazida a 15 km da costa. Entre setembro e novembro, ocorreu o preenchimento e espalhamento da areia na praia. Já de novembro a dezembro, a obra foi finalizada com a desmobilização do canteiro e dos equipamentos.

De acordo com o Instituto do Meio Ambiente (Ima), o órgão ambiental do Estado de Santa Catarina, o projeto de alimentação artificial da Praia Central de Balneário Camboriú previa, além do alargamento da faixa de areia, a revitalização da orla, com a implementação de calçadão, ciclovia e pista de corrida, rampas de acesso à praia e recomposição vegetal. Em junho deste ano, o Ima concedeu ao município a Licença Ambiental de Instalação (LAI) 2042/2024, que autorizou o município a iniciar as obras de macrodrenagem, incluindo o muro, e reurbanização da orla da Praia Central.

Entre as obras de infraestrutura estão listadas intervenções paisagísticas, com o objetivo inicial de recriar a vegetação típica do litoral, resgatando a faixa de restinga e introduzindo nova arborização com espécies típicas do litoral catarinense.

A estratégia de engorda também é utilizada em outro destino turístico catarinense, o Balneário Piçarras, que vai ampliar a faixa de areia de sua Praia Central pela quarta vez em menos de 30 anos. A nova obra prevê a engorda de dois dos sete quilômetros de orla do município, com investimento de R$ 38,289 milhões.

A primeira intervenção em Piçarras foi feita em 1998, sendo refeita 10 anos depois, em 2008 e em 2012. “Temos problemas na nossa orla com ressaca marítima e já sofremos com isso há alguns anos”, afirma o prefeito Tiago Baltt (MDB). O processo de alargamento da faixa de areia utiliza grandes barcos conhecidos como dragas, que retiram areia do fundo do mar e recolocam em um aterro na orla da praia.

“As mudanças climáticas provocam as chamadas ‘praias famintas’, porque o sedimento não chega no mar e, quando chega, tem um processo erosivo que produz praias com cada vez menos areia”, explicou o professor de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Paulo Horta.

Além da proteção da orla, a prefeitura espera que o alargamento atraia mais turistas e gere mais empregos durante o verão. Uma nota técnica de pesquisadores da UFSC em maio, no entanto, destaca que “em praias alteradas artificialmente, tem ocorrido aumento de ferimentos em turistas, como lesões na coluna devido a ondas quebrando com força em praias mais íngremes e aumento nos afogamentos causados por correntes de retorno”.

MACRODRENAGEM. Balneário Camboriú faz também uma obra de macrodrenagem para reduzir os alagamentos que se tornaram mais frequentes depois que a praia foi alargada. Ao custo de R$ 53 milhões, estão sendo instaladas galerias subterrâneas e extravasores de emergência. Quando as galerias não suportam o volume de água, os extravasores são acionados para escoar o excedente durante fortes chuvas.

Os extravasores são estruturas que funcionam como válvulas de segurança. Liberam o excesso de água para evitar alagamentos, protegendo a cidade caso toda a rede de macrodrenagem alcance seu limite. Recentemente, a megaobra ultrapassou a marca de 1 km de galeria instalada.

Cidades tentam criar barreiras contra o avanço do mar

Com as mudanças climáticas, municípios do litoral de São Paulo e de outros Estados têm investido em obras de contenção para evitar o avanço do mar sobre áreas urbanas, como muros para segurar ressacas, barreiras submersas para amenizar as ondas e o alargamento de praias, com a colocação de areia do próprio mar. Especialistas afirmam que as medidas são paliativas, já que o aquecimento global tornará as ressacas mais frequentes e severas. Para eles, o mais importante é reduzir a ocupação da orla, que geralmente ocorre sem planejamento.

O governo federal iniciou em 2024 o Plano Clima, que vai liberar R$ 10 bilhões em dez anos para Estados e municípios executarem projetos de adaptação à mudança do clima, incluindo soluções locais para o aumento do nível do mar. O governo paulista informou ter desenvolvido um sistema de aviso de ressacas e inundações costeiras no litoral e já treina agentes municipais para o uso adequado dos alertas.

No litoral de São Paulo, a prefeitura de Mongaguá tem construído muretas de contenção mais largas e altas para resistir à força das ressacas e marés em toda a extensão da praia. Em março de 2020, uma forte ressaca destruiu as muretas existentes e estragou calçadões e vias urbanas. Quiosques foram danificados, postes de iluminação, arrancados, e portões de prédios caíram com a força das ondas, que arrastaram carros.



Por: Estadão Conteúdo

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