O tom conservador do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), após a decisão de manter a Selic em 15% ao ano na quarta-feira, 17, impedia alta do Ibovespa na manhã desta quinta-feira, 18, na esteira das bolsas de Nova York, após a decisão também da quarta-feira do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Além disso, há renovada cautela política após nova pesquisa indicar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, liderando em todos os cenários para 2026 e vencendo adversários em eventual segundo turno.
“O Ibovespa está mais lateralizado por conta da pesquisa, mostrando Lula na liderança. Isso traz um pouco de preocupação para o mercado, diante do temor de manutenção da atual política fiscal no ano que vem. Hoje, isso com certeza não seria o cenário que o mercado espera”, avalia Kevin Oliveira, sócio e advisor da Blue3. “A política monetária tem feito
Com corte de juros nos Estados Unidos, espera-se que a B3 – assim como outros mercados de ações – atraia fluxo que poderia ir para o mercado norte-americano, mas a Selic elevada acaba aumentando a cautela das empresas no Brasil devido a custos altos. Desta forma, algumas ações mais sensíveis ao ciclo econômico são penalizadas, além de grandes bancos, diante do risco de inadimplência.
Enquanto ontem o Fed reduziu as taxas em 0,25 ponto porcentual, para o intervalo de 4% e 4,25% ao ano, o Copom não só deixou a Selic inalterada pela segunda vez seguida, como tirou do radar dos especialistas a possibilidade de queda no curto prazo.
Na decisão, o colegiado do Banco Central brasileiro repetiu a menção de juros altos por período “bastante prolongado” e que permanece “vigilante”.
Na prática, o Copom reconhece que a taxa atual é elevada e tem impactos relevantes sobre a atividade, mas prefere esperar sinais mais claros de convergência da inflação antes de iniciar um ciclo de cortes, avalia Thomás Gibertoni, sócio e Portfólio Manager da Portofino Multi Family Office.
“Um ponto importante é que o comunicado retirou a sinalização explícita de manutenção para a próxima reunião, o que pode indicar proximidade de um esgotamento no atual nível de juros”, avalia em nota.
Conforme Gibertoni, ao manter um discurso firme, o Copom busca reforçar sua credibilidade e sinalizar ao mercado que não pretende ceder a pressões políticas ou conjunturais, mantendo o foco em assegurar a estabilidade de preços no médio e longo prazo.
Após o anúncio do corte dos juros nos EUA, o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou quedas s graduais até o fim do ano.
Segundo Harrison Gonçalves, CFA Charterholder e membro do CFA Society Brazil, as decisões ilustram contextos distintos. Em sua visão, o Fed busca suavizar a desaceleração econômica, mesmo com inflação acima da meta. “O ambiente tem maior previsibilidade, com crescimento mais fraco, mercado de trabalho perdendo fôlego e tarifas com impacto limitado”, afirma em relatório.
No Brasil, o BC, conforme Gonçalves, opta pela cautela em função de uma inflação persistente, riscos fiscais elevados e desemprego em níveis baixos, fatores que impedem o início de um afrouxamento monetário no curto prazo.
Nesta quinta, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) decidiu deixar sua principal taxa de juros inalterada, em 4%, após concluir reunião de política monetária nesta quinta-feira, em um ambiente de pressões inflacionárias e crescimento fraco no Reino Unido.
Na quarta, o Ibovespa testou pela primeira vez os 146 mil pontos, mas fechou aos 145.593,63 pontos – nível histórico, em alta de 1,06%.
Às 11h38, o Ibovespa caía 0,30%, aos 145.174,52 pontos, ante recuo de 0,41%, na mínima a 144.993,21 pontos, depois de subir 0,03% com máxima de 145.638,82 pontos. Abriu aos 145.593,63 pontos, com variação zero. Neste cenário de incerteza, ações ligadas a commodities, de grandes bancos (exceto BB: alta de 2,10%) e ligadas ao consumo caem.
O minério fechou com queda de 0,12% hoje em Dalian, enquanto o petróleo subia em torno de 0,40%, mas Petrobras cedia 0,73% (PN) e 1,16%). Vale recuava 0,66%. Entre grandes bancos, Bradesco PN cedia 1,02% (a maior perda do segmento). Usiminas PNA, por sua vez liderava o grupo das oito maiores quedas (-2,59%), seguida de Vamos On (-2,72%). Já Natura subia 11,95%. A empresa anunciou acordo para vender a Avon Internacional para a holding Regent, em um movimento importante na estratégia de foco na América Latina.
Por: Estadão Conteúdo