A Polícia Civil de Barro Alto desarticulou uma organização criminosa que comercializava lotes inexistentes em área de preservação ambiental, causando prejuízo estimado em quase R$ 10 milhões – considerando o valor da propriedade invadida e os danos ambientais causados.
O esquema, batizado de “Condomínio dos Bichos”, prometia a venda de 69 chácaras às margens do Rio dos Patos, na zona rural de Barro Alto. Os criminosos utilizavam material publicitário sofisticado e se aproveitavam de cargos públicos para dar credibilidade ao empreendimento fraudulento.
Três pessoas foram indiciadas: dois ex-servidores estaduais aposentados e um fiscal ambiental municipal. Um dos investigados permanece foragido.
Área invadida e devastação ambiental
A organização invadiu propriedade rural privada de 19,5 hectares e promoveu devastação em área de preservação permanente. Laudos periciais constataram a supressão de 1,82 hectares de vegetação nativa do Cerrado, sendo 0,22 hectares em zona de proteção às margens do rio.
Os criminosos instalaram 23 postes de energia elétrica, construíram 1,5 km de estrada e demarcaram terrenos com cercas, configurando tentativa de parcelamento irregular do solo.
O valor da propriedade invadida, somado aos danos ambientais irreversíveis e aos prejuízos diretos às vítimas, eleva o montante global do esquema a quase R$ 10 milhões, segundo estimativas policiais.
Vítimas em vários estados
Pelo menos seis vítimas foram identificadas formalmente, com prejuízos individuais entre R$ 15 mil e R$ 120 mil. O esquema atingiu compradores de diferentes estados, que acreditaram estar adquirindo chácaras legalizadas por preços atrativos.
Os lotes eram vendidos entre R$ 50 mil e R$ 120 mil, com parcelamento facilitado e promessas de regularização futura. Algumas vítimas entregaram veículos como parte do pagamento.
A investigação identificou outras vítimas em diferentes estados que ainda não foram ouvidas, indicando que o alcance do esquema pode ser ainda maior.
Uso de cargos públicos
Os criminosos se valiam estrategicamente de suas posições como ex-servidores públicos para inspirar confiança. Apresentavam documentação aparentemente idônea, incluindo contratos cartoriais, plantas baixas e projetos de infraestrutura.
O fiscal ambiental municipal facilitou a obtenção de licenças irregulares e se omitiu no exercício de funções fiscalizatórias, mesmo após constatar pessoalmente o desmatamento ilegal.
Marketing digital e grupos de WhatsApp
A organização utilizava redes sociais para divulgação e criou grupos de WhatsApp com mais de 25 interessados. O material publicitário incluía fotos aéreas, mapas temáticos e cronogramas de obras.
Quando as investigações começaram, os criminosos tentaram transformar o empreendimento em “cooperativa” para tentar fugir da responsabilização.
Prisões e situação atual
O líder da organização foi preso preventivamente e depois liberado sob medidas cautelares após colaborar com as investigações. O fiscal ambiental foi indiciado por prevaricação e advocacia administrativa.
Um dos principais operadores do esquema permanece foragido desde o início das investigações, com mandado de prisão em aberto.
A empresa proprietária da área tentou impedir novos acessos com barricadas, mas os criminosos as removeram usando máquinas pesadas, demonstrando a estrutura da organização.
Crimes identificados
O inquérito apontou a prática de associação criminosa, estelionato, esbulho possessório, crimes ambientais, prevaricação e advocacia administrativa.
O caso foi remetido ao Poder Judiciário. A Polícia Civil continua investigando para localizar outras possíveis vítimas.
Como se proteger
Especialistas recomendam desconfiar de ofertas muito vantajosas de propriedades rurais, especialmente quando vendedores se apresentam apenas por títulos, há pressão para pagamentos rápidos ou preços muito abaixo do mercado.
