
O Brasil vive um processo acelerado de envelhecimento populacional, que exige novas formas de pensar o cuidado e a convivĂŞncia entre gerações. O tema da redação do Exame Nacional do Ensino MĂ©dio (Enem) 2025, “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, evidencia a necessidade de refletir sobre como o paĂs se organiza para essa realidade. Antecipar decisões e planejar o futuro Ă© fundamental para preservar a dignidade, a autonomia e o bem-estar de todos os envolvidos.
Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica (IBGE), atĂ© 2050, 37,8% da população brasileira terá 60 anos ou mais. No entanto, o cuidado com o idoso ainda Ă© marcado pela improvisação: adaptações tardias da casa, ausĂŞncia de rede de apoio e cuidadores sobrecarregados. “Muitas famĂlias sĂł se veem diante da necessidade de cuidado quando esta já se transforma em emergĂŞncia”, afirma o geriatra Felipe Vecchi, diretor mĂ©dico e operacional dos residenciais Cora e Vivace, da BSL SaĂşde.
Nesses casos, tarefas, decisões e responsabilidades chegam todas ao mesmo tempo: Quem cuidará? Onde o idoso ficará? Como serão financiadas as adaptações da casa e o acompanhamento diário? “Essa cascata, do primeiro sinal à dependência iminente, faz com que o cuidado, em muitos lares, não seja resultado de escolha consciente, mas de resposta urgente”, destaca o médico.
Três dimensões do cuidado com o idoso
Planejar o cuidado não é luxo, mas uma forma de preservar a dignidade, a autonomia e o bem-estar de todos os envolvidos. Segundo o especialista, o planejamento envolve três dimensões interligadas:
- Emocional: conversar abertamente sobre quem cuidará, como será o dia a dia e quais são os valores e desejos do idoso. “Quando o diálogo não acontece, o cuidador assume sozinho e se vê em meio à culpa, sobrecarga e isolamento”, aponta o geriatra;
- Financeira: prever adaptações na casa, contratação de cuidadores profissionais e custos da assistência prolongada. Sem planejamento, decisões importantes acabam sendo tomadas às pressas;
- Familiar e profissional: definir se o cuidado será domiciliar, institucional ou hĂbrido, estruturar uma rede de apoio e preparar quem cuidará, para que o cuidado seja sustentável e nĂŁo se torne um fardo.
Cuidadores profissionais e ILPIs nĂŁo significam abandono
Para alĂ©m do acompanhamento mĂ©dico, o cuidado pode ser domiciliar, hĂbrido ou em Instituições de Longa PermanĂŞncia para Idosos (ILPIs). Segundo Felipe Vecchi, Ă© fundamental romper o estigma de abandono associado Ă s ILPIs. “Os residenciais seniores modernos sĂŁo centros de convivĂŞncia, socialização e cuidado tĂ©cnico contĂnuo. Eles nĂŁo substituem a famĂlia, apenas ampliam a capacidade de cuidado. Quando bem escolhidos, preservam vĂnculos afetivos e reduzem a sobrecarga emocional de quem cuida”, explica.
O cuidado profissionalizado, portanto, nĂŁo substitui o afeto familiar. Ele o potencializa, oferecendo estrutura, conhecimento e alĂvio para quem cuida. Quando a famĂlia e a instituição caminham juntas, o idoso vive melhor e o cuidador tem respaldo.

Passos para o planejamento do cuidado com o idoso
Conforme o geriatra, há passos que podem ser dados em direção ao planejamento do cuidado com o idoso. Confira!
1. Tenha uma “conversa de cuidado” em famĂlia
Fale sobre o futuro de forma aberta e realista. Onde queremos estar? Quem poderá estar ao lado? Quais adaptações serão necessárias para garantir conforto e dignidade? Essas perguntas ajudam a construir um plano antes que o imprevisto aconteça.
2. Reavalie a moradia
Pequenas mudanças fazem grande diferença. Verifique acessos, iluminação, segurança, mobilidade e conforto. Um ambiente preparado evita quedas e promove autonomia.
3. Pense no cuidador
Quem assumirá esse papel? Ele terá preparo, orientação e apoio emocional? O cuidado sustentável depende de uma rede de suporte bem-estruturada, e não apenas de uma única pessoa.
4. Avalie as opções de cuidado
Modelos domiciliares, hĂbridos ou institucionais podem atender diferentes perfis e fases da vida. Cada escolha traz custos, benefĂcios e impactos emocionais que devem ser discutidos com todos os envolvidos.
5. Observe os sinais de alerta
Esquecimentos frequentes, alterações de sono, tremores ou rigidez são indicativos que merecem atenção. Quanto antes o diagnóstico, mais correto será o planejamento e melhor a qualidade de vida.
6. Cuide também de si
A longevidade saudável nasce de hábitos simples, como ouvir mĂşsica, exercitar o corpo e a mente, manter vĂnculos sociais e realizar acompanhamento mĂ©dico regular. Cuidar Ă© um ato coletivo e começa hoje.
“Planejar o cuidado antes que ele se torne emergĂŞncia nĂŁo Ă© sĂł prudente, Ă© amor em ação. Quando famĂlias, profissionais e instituições se unem em torno desse propĂłsito, o envelhecer deixa de ser sinĂ´nimo de vulnerabilidade e se transforma em capĂtulo de vida plena, respeitada e assistida”, finaliza Felipe Vecchi.
Por Andressa Marques
Fonte: Portal EdiCase










