O médium João de Deus se entregou à polícia neste domingo (16), às 16h20, em uma estrada de terra em Abadiânia, na região central de Goiás. João de Deus é suspeito de abusos sexuais durante tratamentos espirituais e sua prisão foi determinada pela Justiça na tarde de sexta (14), a pedido do Ministério Público (MP-GO) e da Polícia Civil de Goiás. As informações são do G1.
João de Deus foi levado para a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) e chegou por volta das 18h00. Ele prestou depoimento até por volta de 22h00 e depois foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito.
Mais de 300 mulheres afirmam ter sido vítimas do religioso. A defesa nega. A prisão é preventiva – ou seja, sem prazo para terminar.
A Polícia Civil disse que João de Deus se apresentou espontaneamente ao delegado-geral, André Fernandes, e ao delegado titular da Deic, Valdemir Pereira. Ele estava acompanhado de advogados.
A polícia também informou que não foram usadas algemas na operação e que o médium vai dormir no Núcleo de Custódia, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, nesta primeira noite.
“Na hora em que eu fiquei sabendo, eu me entrego à justiça divina e a Justiça da Terra, que eu prometi, e estou indo agora me entregar, porque eu fiquei sabendo pelo meu advogado que está aqui presente, o doutor Toron”, disse João de Deus à jornalista Mônica Bergamo, do jornal "Folha de S. Paulo".
Ele deu a declaração quando questionado pela jornalista sobre o motivo de estar se entregando neste domingo, e não anteriormente. Logo depois, ele entrou em um carro junto com seu advogado para se entregar.
Em entrevista em frente à Deic, para onde João de Deus foi levado, o advogado Alberto Toron afirmou que pretende entrar com o pedido de habeas corpus nesta segunda-feira (17), para "discutir a legalidade da prisão", e também citou como alternativas possíveis uma prisão domiciliar e o uso de tornozeleira eletrônica.
Na ocasião, ele também negou intenção de fuga, disse que os R$ 35 milhões movimentados em contas foram "apenas tirados de aplicações" e declarou desconhecer o teor dos depoimentos das mulheres que denunciaram o médium.
"O senhor João nega essas acusações. Nós, com o tempo, poderemos demonstrar o que aconteceu", afirmou o defensor. "[Ele deu] Mostras claras de que respeita a Justiça, respeita o judiciário."
Também em entrevista coletiva no local, o delegado-geral deu detalhes sobre os rumos da investigação. “Ele vai ser ouvido caso por caso. Vai ser um depoimento longo [o do João de Deus], mas a Polícia Civil se preparou para isso. São 15 casos que chegaram até a nós.”
“Além do interrogatório do João de Deus, devem ser ouvidas outras pessoas para apurarmos outras situações. E com a prisão devem aparecer mais vítimas”, completou o delegado.
Segundo o delegado-geral, ainda não há como definir exatamente por quais crimes ele vai responder, porque os depoimentos tratam de crimes distintos. “De maneira geral, são crimes contra os costumes mediante fraude”, disse.
“Pela idade, ele acaba tendo alguns benefícios pela lei, como a diminuição pela metade do tempo de prescrição dos casos”, declarou também o delegado.