O Ministério Público Federal (MPF-GO), ao pedir a prisão do ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), comparou a organização criminosa da qual ele seria o líder com máfia, citou a existência de “pacto de silêncio” entre os membros e afirmou que o político ainda é muito influente no estado. O investigado foi preso preventivamente na tarde desta quarta-feira (10) enquanto prestava depoimento à Polícia Federal na Operação Cash Delivery, que apura pagamento de R$ 12 milhões de propina pela Odebrecht para campanhas políticas. As informações são do G1.

No depoimento de Marconi, obtido pela TV Anhanguera, ele disse que todas as campanhas políticas das quais participou as doações fora legais.

O texto da publicação continua após a publicidade

A defesa pediu, ao fim desta tarde, o habeas corpus do político no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1); processo que tramita em segredo de Justiça. O G1 entrou em contato com o advogado do ex-governador, Antônio Carlos Almeida, conhecido como Kakay, às 18h46 para pedir um novo posicionamento e aguarda retorno. No fim da tarde, ele havia dito que "não há absolutamente nenhum fato novo que justifique o decreto do ex-governador Marconi Perillo". Veja posicionamento dele na íntegra ao fim da reportagem.

O G1 também entrou em contato com a assessoria de imprensa da Odebrecht por e-mail às 19h33 pedindo um novo posicionamento da empresa e aguarda retorno. Em nota enviada na última semana, a companhia havia dito que “continua colaborando com a Justiça e reafirma o seu compromisso de atuar com ética, integridade e transparência”.

A operação ocorreu em decorrência de delações da Odebrecht na Operação Lava Jato. Cinco pessoas foram presas quando a Operação Cash Delivery foi deflagrada, no dia 28 de setembro, e cumpriu mandados em endereços ligados a Marconi Perillo. Foram presos Jayme Rincón, o filho dele, Rodrigo Godoi Rincón, Márcio Garcia de Moura – policial militar e motorista de Rincón –, o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior e o advogado Pablo Rogério de Oliveira.

Foram apreendidos R$ 80 mil na casa de Jayme Rincón. Outros R$ 940.260, na casa do motorista dele. De todos os suspeitos, apenas o PM Márcio Garcia de Moura seguia preso nesta quarta-feira (10). O militar, o empresário, o advogado e Rodrigo sempre negaram ter cometido crime.

Jayme Rincón, que é ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) e foi coordenador financeiro de campanha eleitoral em 2010, disse em depoimento à PF que “recursos” para campanhas eleitorais de candidatos aliados foram entregues pela Odebrecht a seus motoristas no apartamento que tem em São Paulo.

Na ocasião ele também disse que esses valores eram “destinados, em sua maioria, para campanhas de candidatos aliados” e que “parte dos valores era oficializado com ajuda de empresas parceiras” – o que pode configurar lavagem de dinheiro, de acordo com a PF. Jayme disse ainda que “todo o montante destino à campanha de Marconi Perilllo foi legalizado”.

Pedido de prisão
Justificando o pedido de prisão de Marconi, o MPF afirmou que o grupo que ele lideraria se assemelha a “organizações criminosas do tipo mafioso, que buscam preservar a sua existência através da Omertá, ou Pacto do Silêncio”. O órgão se refere ao silencio em depoimento à PF do policial militar Márcio Garcia de Moura, motorista de Jayme Rincon – ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), ex-diretor financeiro da campanha de Perillo em 2010 e apontado como braço direito do tucano.

Segundo o MPF, mesmo Moura não sendo “o dono do dinheiro e sim o encarregado de escondê-lo”, o policial “preferiu manter-se em silêncio, a apresentar versão que explicasse ou justificasse a origem [...], ou mesmo buscasse obter benefícios legais previstos para o investigado colaborador”. O documento afirma que o policial de manteve em silencia em depoimento à PF “seguindo as instruções do advogado que lhe fora contratado sem que ele sequer tivesse conhecimento”.

O G1 não localizou a defesa de Moura para pedir um novo posicionamento a respeito do caso.

Também de acordo com o MPF, mesmo não ocupando nenhum cargo público atualmente, Marconi segue com considerável influência no governo. O órgão cita que o ex-governador estaria articulando para, caso não conseguisse uma cadeira no Senado nessas eleições – o que de fato não ocorreu, fosse indicado para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas da União (TCU), como o cunhado dele.

O órgão diz ainda que considera a prisão preventiva dele indispensável para cessar os atos criminosos da organização investigada: “necessidade urgente da prisão do próprio chefe maior, que só não foi requerida antes em razão da imunidade temporária à prisão lhe conferida pela lei eleitoral aos candidatos às eleições de 2018”.

Ao conceder o pedido de prisão, o juiz afirmou que a apreensão de quantias em dinheiro não declaradas nas casas de Rincón e Moura no último dia 28, quando foi deflagrada a Operação Cash Delivery, são evidência de que a organização investigada continua agindo.

O magistrado disse ainda que há indícios de que a o grupo não recebia doações ilícitas somente da Odebrecht. “Referida estrutura reforça os elementos colhidos até então, demonstrando que Marconi Perillo utilizou-se de sofisticada estrutura para lavagem de dinheiro, ocultando a propina recebida por meio de ‘empresas parceiras’”.

O documento informa ainda que diante do que foi apresentado pelo MPF, “não restando outra medida a ser adotada que não a prisão preventiva de seu principal integrante, de modo a desarticular a organização criminosa”.