O bispo de Formosa (GO), José Ronaldo Ribeiro, o vigário geral e outros quatro padres foram presos na manhã desta segunda-feira, 19, suspeitos de desvio anual de R$ 1 milhão da diocese de Goiás, aponta investigação do MP (Ministério Público) do Estado. As informações são do UOL.

Parte do dinheiro foi usada, segundo a investigação, na compra de uma fazenda de gado e uma casa lotérica na cidade de Posse, também no interior de Goiás. As propriedades foram colocadas em nomes de laranjas.

Policiais civis cumpriram 13 mandados de prisão e dez de busca e apreensão nas cidades de Formosa, Posse e Planaltina. Entre os locais de busca encontra-se um mosteiro, além das casas dos suspeitos. O nome dado à Operação foi o de Caifás - de acordo com o Evangelho, ele foi o sacerdote que entregou Jesus Cristo a Pôncio Pilatos.

Foram apreendidos uma quantidade ainda não contabilizada de dinheiro, aparelhos eletrônicos, notas promissórias e documentos contábeis da diocese. Contas bancárias dos suspeitos foram bloqueadas, por decisão da Justiça goiana.

Investigação começou com denúncias de fiéis
A investigação foi iniciada em 2015 pelo MP-GO a pedido de 30 "leigos católicos apostólicos" que denunciaram irregularidades e uso indevido de bens da Igreja Católica por parte da direção da Cúria Diocesana de Formosa.

Bispo de Formosa (GO), José Ronaldo Ribeiro nega os desvios - Imagem: Reprodução

"A região da diocese engloba 33 igrejas em 20 paróquias. Por ano, são arrecadados cerca de R$ 17 milhões por meio de dízimos, doações e faturamento de festas realizadas de fiéis, além de taxas aplicadas para cerimônias de batismo e casamento", informou o promotor de Justiça Douglas Chegury, responsável pela investigação.

"Deste total, cerca de 10% era repassado à Cúria Diocesana, o órgão máximo da diocese. A investigação descobriu que esse dinheiro era desviado pelo bispo e outros padres em benefício próprio", diz o promotor."O montante desviado chega a R$ 1 milhão por ano", acrescenta o promotor.

A apuração descobriu, por meio quebra de sigilos telefônicos e bancários dos investigados, que somente um padre investigado tinha saldo de R$ 400 mil em sua conta bancária. "Carros da arquidiocese também eram desviados proveito próprio dos investigados", afirma Chegury.

Bispo negou irregularidades
Entre os presos, além do bispo, estão o vigário geral, monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, e os padres Moacyr Santana, Mário Vieira de Brito, Waldson José de Melo.

"De modo mais incisivo, são inúmeros os diálogos transcritos a partir das interceptações telefônicas em que apontam a possibilidade de que os clérigos José Ronaldo, Epitácio, Moacyr, Mário e Waldson estejam a desviar vultuosas quantias que podem ter servido para aquisição de uma propriedade rural no município de Posse com criação de gado e de uma casa lotérica (também em Pose), além de despesas de cunho exclusivamente pessoa diretamente pelo bispo arcadas pela instituição", afirma o juiz da 2º Vara Criminal de Formosa, Fernando Oliveira Samuel, em sua decisão que decreta a prisão temporária dos investigados. De acordo com a legislação, a prisão temporária vale por cinco dias.

Quando veio a público as denúncias dos fiéis, o bispo José Ronaldo Ribeiro negou que tenha cometido irregularidades.

"Não tem nada de impropriedade. Não toco nos repasses financeiros das paróquias que são destinados à manutenção das necessidades da diocese, casa do clero, seminário, estrutura da cúria e funcionários, por exemplo", disse o bispo.

Funcionários da diocese de Formosa afirmam que esperam a chegada dos advogados para a divulgação de um comunicado oficial sobre o assunto. A reportagem ainda não conseguiu o contato com a defesa dos investigados.

Pressão sobre testemunhas
Quando as denúncias dos fiéis vieram à tona, o bispo Ribeiro convocou um padre de sua confiança, que tinha as funções de juiz eclesiástico, com o objetivo de intimidar testemunhas, afirma o MP-GO.

"Esse juiz eclesiástico pressionou os padres para que nada fosse relevado e eles jurassem fidelidade ao padre. O bispo e o juiz eclesiástico, com a ajuda de um advogado, elaboraram um relatório falso no qual se afirma que as despesas da arquidiocese são menores do que de fato são", diz o promotor Chegury.

O esquema contava ainda com a ajuda de funcionários da arquidiocese que providenciavam falsa documentação para dar respaldo aos desvios.

"Consta que Darcivan da Conceição, em declarações dele próprio aos promotores de Justiça, seria o contador da Cúria e conhece os problemas ligados à regularidade dessas finanças e, mesmo tento a plena ciência de incoerências, aprovava essas contas anualmente", afirma o juiz Samuel.

"Nelas, disse por várias vezes do resultado contábil que alcançava saldo positivo - ou seja, os documentos apontavam sobras de recursos na Cúria e em algumas paróquias - mas que os responsáveis diziam que não tinham esse valor (estaria zerado). Então, ele providenciava a documentação necessária para dar respaldo nas finanças (por meio de "declaração"), mesmo ciente que formalmente não tinha sido a realidade contábil", acrescenta o magistrado.